quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O BÊBADO E O CRONISTA

Certo dia, andando pelo movimentado calçadão de Copacabana me deparo com uma cena um tanto quanto curiosa: ali sentado sobre o banco, a conhecida estátua de Drummond, o que já é “natural” da paisagem. Todavia, ao seu lado estava uma figura bem peculiar, de vestimentas comuns o costume carioca e praiano de ser, mas notava-se que era de se questionar a sobriedade do sujeito – abraçado a “Drummond”, conversava amigavelmente, mas com movimentos e falas lentas e embaralhadas...
Diante do cenário, me coloquei a observar e era possível imaginar um diálogo entre eles, “o bêbado e o cronista” (não mais o equilibrista de Elis Regina). O encontro do bêbado e o poeta em pleno ano de 2010 em Copacabana, poderia acontecer mais ou menos assim:
Drummond começaria a conversa, perplexo diante da nova, e também reprodutora, condição humana.
_E agora, José?
_“Eita”! Como saaaabe meu nomee? “Vixi”! Será que me esqueci de pagar a pinga?
_Não, na verdade, José é o homem, o humano que tem passado por tantos conflitos e inverdades por conta de tropeços históricos, políticos e ideológicos.
_Ah! Nãããoooo me diga que o senhor também tropeçou? Eu, sim. Sabe? Tinha uma pedra, um pedregulho no meio do caminho. Ééééééé isso aí, no meio do caminho tinha uma pedra e... puft, tropecei. Mas, na real – continua ele em tom de cochicho – parecia minha “mulhé”, uma pedra no cami-mi-mi-nho.
_ As pedras fazem parte da viagem e descobertas do mundo. Sou de Itabira, de Belo Horizonte, do Rio de Janeiro, mas na Balada do amor através das idades, eu era grego e ela troiana. Quando terminadas essas viagem ao redor da Terra e além desta, nos resta colonizar, civilizar e humanizar o homem. O senhor já fez esta viagem?
_ Ainda que mal consigaaa lhe entender, o senhor quer saber se já viajei? Olha, até que siimmm, mas nada muito longe. Fui até aliiii, ihhh nem sei mais o nome, mais fica a umas 5, 6, 7, não, não, umas 8 horas daqui.
_ Eu também já fui brasileiro, hoje sou somente humano e proclamo que precisamos descobrir o Brasil, faço o verdadeiro Hino Nacional.
_ Ééééééééé. Mas, voltaanndo a minha “mulhé”, acho que vai acabar em divórcio, não acha nãooo? É só brigaaaa, guerra.
_ Não. A guerra é sempre feita entre um que quer e outro que não quer brigar. Quando os dois querem, verificam que estão de acordo, e detestam-se em paz. Use a canção para ninar mulher; uma canção amiga.
_ Estes só podem ser conselhos de um apaixonaaaadoooo. Eita, homem, tá amando, heim? Deve ter razão, vou separar não, ela me atuuuura. Não atuura?
_Os ombros suportam o mundo, a eles não pesam mais que as mãos de uma criança. Suportar é também com o outro, que é tão outro de você, mas mesmos juntos não podemos perder de vista a liberdade humana.
_ Liber-da-de... olhe, as vezes fico pensandooo nisso, sabe? Todo mundo diz na TV, nas músicas, nessas revistas famosas e jooornais. Tooodooo mundo é livre. Não seiiii nãooo. Eu tenho que “trampá”, pagar contaaa, e ainda ouvir minha “mulhééé”...
_ Meu caro, estas são as sete faces da liberdade. Se ela é dos homens, se foi dada por Deus, não me cabe responder. Da liberdade digo que simplesmente é não se diz, afinal. Já Deus... ele é quem não acredita em mim... Esse é um tema bem polêmico, não é mesmo senhor? Senhor? Senhor...
_ ...
_ Agora que a prosa estava ficando boa...

O “bêbado” adormece no banco e Drummond continua com suas reflexões, agora solitárias, prestes a escrever uma nova poesia, ou crônica quem sabe, acerca daquele encontro tão incomum.
Quanto a mim, expectadora, o que posso dizer depois deste curto diálogo?
“O ministério da saúde adverte: beba com moderação. A bebida em excesso pode causar alucinações dentre outras reações adversas.”
Mas até que neste caso específico não seria tão infecunda assim a alucinação... pode até evitar divórcios!


Por Juliana Janaina Tavares Nóbrega

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

sábado, 20 de novembro de 2010

A verdadeira evolução do trabalho...


mas... ainda não estamos tão evoluídos assim...

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Que país é esse?


Temos uma representação democrática, a primeira vez (contando com o governo Lula) que a grande massa, a população, ganha voz na presidência e gestão do país (entende-se que pobres não são só os nordestinos!), que começa a gerir em benefício primeiro aos que mais necessitam e, consequentemente movimenta a economia, "provocando" a ascensão social e econômica; nega a representação de uma minoria rica do Brasil, já que demonstra que não precisa ser "engravatado" ou "intelectual" para bem gerir o país (inclusive reconhecido internacionalmente); elege uma mulher...ao invés do conservadorismo e reacionismo de direita com seus velhos representantes e ideais capitalistas elitizantes. 
E novamente na história, os paulistas, pseudo-burgueses, porque muitos não dependem de benefícios  federais e têm condições de cursar escolas particulares, boas universidades, ter seu plano de saúde, etc. acham-se superiores a todo este processo. E dizem votar no "progresso", progresso esse PSDBista que vendeu grande parte de nosso país, que subiu com inflações, aumentou juros, diminuiu consideravelmente o investimento na educação  e continuou priorizando uma minoria de uma classe social que hoje se incomoda por não ser a única atendida pelo Governo Federal... 
Essa minoria, que representa menos de 2% da população paulistana são aqueles que botam fogo em índio e espancam domésticas nas ruas porque se acham superiores, porque seus pais bancam a conta destes "pequenos prejuízos". E quando tem um representante desta corja no poder ficam mais seguros quanto a esta impunidade e "superioridade". São aqueles que acreditam que basta dinheiro para se ter tudo, basta investimento e intelectuais para fazer o mundo, e esquecem-se que quem construiu desde as Pirâmides do Egito até os grandes edifícios de São Paulo não foi o dinheiro por si só, mas uma mão-de-obra que deu seu sangue, sua vida, por este verdadeiro trabalho (labor).
É inconcebível tais discursos xenofóbicos e preconceituosos em um país tão diversificado, como em qualquer outro, depois dos Direitos Humanos. Era a cor da pele, a religião... agora o Estado em que nasce, seu sotaque... isto me lembra os NAZISTAS! 
Não esqueçam que mesmo Hitler e todo seu poder de persuasão, sua retórica, a virtu e a fortu, foi traído e todo seu aparato condenado pela humanidade.
Ao ler estas reportagens todas acerca deste acontecimento xenofóbico mais recente em nosso país, prestei atenção em algo do discurso bastante contraditório  representado na figura de Godoy Navarro em sua entrevista: olha só, um dos representantes do movimento faz parte da USP (dentre outras diversas universidades elitistas de São Paulo  que tem participantes no movimento) e é imigrante japonês... 
 Marx colocava que o "capitalismo tem em si o germe de sua própria destruição" - que "São Paulo para os paulistanos" que eles querem? A dos imigrantes pode, mas migrante não? A formação da elite da cidade é praticamente toda de origem ou ascendência européia e um pouco asiática, estes também serão "barrados"?

Juliana Janaina Tavares Nóbrega.

O MANIFESTO "CONTRA O NORDESTE" - quem são estes pseudo-burgueses que acreditam que São Paulo não depende de nada nem ninguém? Que se acham superiores aos demais brasileiros?

Em manifesto na web, jovens paulistas criticam migração

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Xenofobia não! São Paulo para todos.
Ana Cláudia Barros, para o Terra Magazine

Eles têm entre 18 e 25 anos, são universitários e se uniram a partir de um manifesto virtual, batizado de “São Paulo para os paulistas”. A iniciativa, que começou com a voz solitária de uma jovem indignada diante da proposta de inserção da cultura nordestina na grade curricular de escolas da capital do Estado, foi ganhando adeptos e, em poucos meses, já contava com mais de 600 adesões, demonstrações de apoio expressas em assinaturas numa petição online.

Escolhido como porta-voz do grupo por ter um discurso mais moderado e menos conservador, o estudante Willian Godoy Navarro, 22 anos, conversou com Terra Magazine. Nitidamente preocupado em dosar as palavras, ele falou sobre as pretensões do movimento, que tem entre os principais objetivos discutir a questão da migração e a suposta subvalorização da cultura paulista, preterida, segundo o universitário, em função do espaço que culturas “estrangeiras” conquistaram em São Paulo.

“Existe uma representatividade muito forte, na Assembleia Legislativa, de deputados de origem nordestina, que trabalham para o povo paulista. E eles aprovam e trabalham em projetos de lei que valorizam a cultura de lá. Isso não é errado. O que ocorre é que existe uma supervalorização dessa cultura e nenhuma da paulista. Muitas vezes, o aluno passa pelo Ensino Fundamental, pelo Ensino Médio e nunca estudou, não sabe qual é a história de São Paulo, o que são os bandeirantes. E agora o cara quer inserir isso como uma disciplina, “culturas do Nordeste”. Aqui não é o Nordeste. Ele deve fazer isso no Nordeste”, afirma Willian Godoy Navarro, garantindo que a preocupação do grupo não se dirige, especificamente, aos migrantes dessa região do País.

O universitário conta que a sondagem na internet foi apenas uma etapa inicial. O plano agora é criar o Movimento Juventude Paulistana, uma organização com “personalidade jurídica”, que, a exemplo dos ativistas ambientais do Greenpeace, pretende buscar visibilidade por meio de atos públicos.

“A gente vai fazer alguma coisa na Ponte Estaiada. Uma faixa, uma mobilização que chame a atenção dos principais veículos de comunicação de São Paulo”, adianta, sem, no entanto, revelar detalhes.

Confira a entrevista
Terra Magazine – Como surgiu a ideia do manifesto?
Willian Godoy Navarro – A ideia do manifesto surgiu por conta de algumas leis que ainda estão em discussão na Câmara, na Assembleia Legislativa, que defendem a aplicação de uma disciplina nas escolas públicas em relação à cultura nordestina. Isso desencadeou o movimento, porque não existe uma promoção da cultura paulista. Os alunos saem do Ensino Médio e não sabem o que foi a Revolução Constitucionalista de 1932. Então, a Fabiana [uma das integrantes] criou a petição, jogou na internet e conseguiu a adesão. Foi formado um grupo. Dezenas jovens apoiam e se mobilizam na internet para divulgar. Foram se conhecendo pela internet. A petição está há poucos meses no ar e já tem mais de 600 assinaturas.

O que vocês pretendem exatamente?
A gente quer levantar a discussão. Não apoio à petição. Há uma discussão interna. Acredito que a petição é ousada demais, muito radical. A gente não pode fazer uma petição como se São Paulo fosse um Estado independente.

A petição dá a ideia de que há uma intenção separatista. Não há um consenso no grupo?
Existe um movimento separatista, que é o Movimento República de São Paulo (MRSP), mas a gente não faz parte. A gente apoia o MRSP, mas não apoia a ideia de separar São Paulo do Brasil. Na passeata de 9 de julho, conversamos com eles. É um movimento organizado. São centenas de jovens de todo o Estado. Tem sede em Ribeirão Preto, Sorocaba, Campinas, Santos, São José dos Campos e na cidade de São Paulo. Geralmente, são de famílias italianas. Também são grupos de universitários.

Mas o que vocês objetivam com esse manifesto?
Criar uma influência. Agregar outros jovens que tenham o mesmo interesse em discutir os temas de sua cidade. A gente está trabalhando agora de forma diferente. Vamos criar um grupo de jovens, o Movimento Juventude Paulistana. A migração deve ser discutida e deve ser criticada, mas uma crítica construtiva.

No manifesto, há um trecho que fala em “migração predatória”. Você concorda com o termo?
Não concordo. O que acontece é que não houve uma política migratória, nada que pudesse planejar isso. O que houve? São Paulo cresceu desde a década de 1970 pra cá, graças à migração. Isso é fato. São Paulo hoje é uma potência com a força de trabalho que os migrantes trouxeram para o estado. O que acontece é que, hoje, a cidade não consegue mais absorver essa migração que ainda continua. Não há nenhum tipo de política pública para administrar isso. As pessoas têm o direito de ir e vir, mas tem de haver uma política que pudesse trabalhar com elas.

Vocês são a favor de iniciativas que estimulam o retorno de migrantes ao local de origem?
Imagina só: um migrante que tinha um trabalho na área agrária, rural. Ele vem para uma cidade, sem qualificação, sem estudo, sem preparo. Ele não tem base para se manter nessa cidade. Se ele sempre trabalhou no meio rural, o que vai fazer na cidade? Ninguém pensou nisso.

Então você apoia essas iniciativas?
Sim, é uma questão humanitária. Para você ter uma ideia, tem uma pesquisa que diz que 84% dos moradores de rua que vivem no Centro de São Paulo são migrantes. É aquela mesma história. Vêm para São Paulo, não são absorvidos, não têm amparo público e acabam vagando pela cidade. O custo de vida em São Paulo é alto. Acredito que seja um dos mais altos do País. Já é difícil para um paulistano, que constrói uma carreira, comprar, financiar um apartamento ou uma casa, imagina para o migrante que consegue ganhar um salário mínimo por mês e tem uma família para sustentar?

Lendo o manifesto, notei que o movimento tem uma particular preocupação com os nordestinos...
Não existe essa preocupação particular. Mineiros, nordestinos, mato-grossenses, paulistas que vieram do interior para a capital. Todos.

Mas, inicialmente, você comentou que a petição foi desencadeada pelos projetos de lei que defendem o ensino da cultura nordestina nas escolas.
O que desencadeou foi exatamente isso. Existe uma representatividade muito forte, na Assembleia Legislativa, de deputados de origem nordestina, que trabalham para o povo paulista. E eles aprovam e trabalham em projetos de lei que valorizam a cultura de lá. Isso não é errado. O que ocorre é que existe uma supervalorização dessa cultura e nenhuma da paulista. Muitas vezes, o aluno passa pelo Ensino Fundamental, pelo Ensino Médio e nunca estudou, não sabe qual é a história de São Paulo, o que são os bandeirantes. E agora o cara quer inserir isso como uma disciplina, “culturas do Nordeste”. Aqui não é o Nordeste. Ele deve fazer isso no Nordeste.

É por isso que vocês falam no manifesto: “O paulista olha a seu redor e se vê um estrangeiro em sua própria terra”?
A Fabiana foi muito ousada, colocou palavras bastante fortes nesse manifesto. Por isso que vamos mudá-lo. E a gente não vai mais fazer isso pelo meio virtual. A gente vai utilizar essa influência que conseguimos para fazer algo oficial mesmo. Uma organização que vai ter uma personalidade jurídica. Vai ser algo com uma representatividade mais concreta.

Nesse primeiro momento, o manifesto virtual serviu para saber se haveria aceitação?
Foi um estudo para a gente sentir como seria a aceitação. Falar da migração sempre é um tabu. Sempre alguém vai se sentir prejudicado. A gente estava discutindo ontem [3/11] para falar com você hoje. A gente não pode falar da migração. São Paulo foi construído por imigrantes e migrantes. O que tem de acontecer é uma administração, um controle.

Como assim “um controle”?
Não existe controle. Não controle. Controle é uma palavra muito forte. Mas nenhuma política que pudesse organizar a migração. Não só de nordestinos, mas de todos que vêm para São Paulo ou para outra cidade. A gente tem quase 1 milhão de pessoas na cidade de São Paulo que não conseguem emprego, que moram em favelas ou em áreas com más condições de moradia. A gente não tem estrutura para absorver a migração. Essa mão de obra, essa força de trabalho que continua vindo para São Paulo, poderia desenvolver outras áreas do País. A gente se preocupa com o futuro da cidade.

Vocês do movimento consideram que a migração provoca sobrecarga no sistema de saúde e impactos nos índices de violência?
Seria hipócrita se dissesse que não. A maior parte das pessoas que utiliza o SUS na cidade de São Paulo é migrante. Agora, não que esse seria o problema. Em relação à violência, é também bastante contestado. O cara vem, mora na periferia, não tem emprego, não tem nenhuma base. Vai trabalhar no mercado informal ou arranjar outro meio. Mas, às vezes, há outras situações que fazem com que parta a criminalidade.

Vocês falam de xenofobia no manifesto. “Se um migrante adentra em uma região, e desrespeita seus costumes, não respeita a diversidade. Pretender modificá-los, moldá-los a si, impor os próprios, forçar os anfitriões a aceitar a descaracterização, são atos de ‘xenofobia’”. Quero que você comente esse trecho do manifesto.
Quem escreveu foi a Fabiana, mas acredito que ela quis dizer que está sendo forçada à inclusão de uma cultura diferente. Não sei se você vai concordar comigo, mas tem uma característica bem peculiar. É muito diferente da cultura paulista, como a cultura paulista é diferente da cultura carioca. Quando existe qualquer ato de promoção da cultura dos paulistas é visto como preconceito.

O que seria um ato de promoção da cultura paulista, por exemplo?
Por exemplo, existem mais pessoas que vão para a semana cultural nordestina, na Zona Norte, no Cambuci, onde há um centro de cultura nordestina, do que as que foram à passeata em 9 de julho, que é um marco para o Estado.

Então, em sua opinião, há uma subvalorização da cultura de São Paulo?
Isso mesmo. Quem é o responsável? O governo e a prefeitura que incentivam isso. O problema é o seguinte: a maior parte do eleitorado que promove (sic) eles [políticos] são migrantes.

Especificamente, nordestino?
Sim, basicamente sim.

E, na visão de vocês, eles acabam elegendo representantes de origem nordestina...
Entendeu nosso ponto? O pessoal fala muito de outras culturas, mas qual é a cultura daqui? Ninguém fala.

No manifesto, vocês dizem que São Paulo cresceu sem receber dádivas do Brasil.
Certo.

Vocês dizem: “São Paulo não deve nada ao Brasil, portanto, o usufruto desse trabalho deve ser para o povo paulista”.
Por exemplo, São Paulo é o estado que mais arrecada impostos, que mais produz. A gente não recebe nem um terço do que produz. Esse déficit orçamentário no Estado não permite que o governo trabalhe na habitação, na infraestrutura, no saneamento, na educação e na saúde. A gente é prejudicado. O dinheiro dos impostos, das industrias e do povo de São Paulo é revertido para outros estados, ao invés de ser aplicado novamente aqui. Recife e Salvador recebem mais investimentos do governo federal do que arrecadam. A capital do Piauí, Teresina, é um exemplo disso. Isso é um absurdo, sendo que a gente tem problemas de transporte público em São Paulo. O transporte público aqui é terrível. Muitos falam que a migração foi responsável pelo avanço, mas São Paulo sempre foi rica. Sempre foi desenvolvida. E foi com a força do trabalho dos migrantes também. Mas não só dos migrantes, mas de todos os paulistas.

No manifesto, vocês dizem que os “migrantes não construíram São Paulo por serem alocados na construção civil. Seja desmentida tal falácia”. Você acha que isso é realmente uma falácia?
Essa parte do manifesto não li, mas o entendimento é o seguinte: quem constrói São Paulo não são os pedreiros. São os empresários, os investimentos aplicados na cidade, feitos por paulistas. Falar que outras pessoas construíram a cidade é absurdo. Eles trabalharam, usaram sua força de trabalho. Não significa que construíram São Paulo. Esse prédio que você trabalha, por exemplo, não foi construído por migrantes... por pedreiros. Foi construído pela empresa que investiu, que financiou o projeto. Entendeu o ponto de vista do manifesto? As pessoas dizem: “Ah, os migrantes construíram São Paulo”. Construíram com sua força de trabalho, mas se não fossem os investimentos e o dinheiro que gira na cidade não teriam construído nada.

Vocês têm noção do teor polêmico da causa que defendem?
É muito polêmico. É o que falei para a Fabiana. “Não se pode falar da migração. No Brasil, não se pode falar, porque todos são”. Parte do manifesto não apoio. A gente vai estudar uma nova forma de aplicar um manifesto cabível para a realidade e para a necessidade de São Paulo.

Então, o manifesto que está na internet vai ser reformulado?
Vai ser reformulado. Vamos utilizar a influência conquistada com esses meses de trabalho. A gente vai fazer algo oficial agora, que vai ser o Movimento Juventude Paulistana. Vai ter um site e tudo mais.

Qual o objetivo do Movimento Juventude Paulistana?
Levantar esse assunto, mas de forma coerente. A gente vai tentar fazer com que ele seja discutido com a sociedade. Se a sociedade não tiver interesse em discutir a migração, a gente não discute. A gente vive em um País democrático e tem de expressar nosso ponto de vista. Há outros milhares de paulistanos que apoiam nossa ideia. A gente vai tentar levantar isso com a sociedade.

Como?
Como o Greenpeace chama a atenção? Ele faz uma passeata com 100 mil pessoas ou faz um ato que atrai a mídia? O ato. É isso que a gente vai fazer.

Já há algo planejado?
Não posso dizer. A gente vai fazer alguma coisa na Ponte Estaiada. Uma faixa, uma mobilização que chame a atenção dos principais veículos de comunicação de São Paulo. Se os paulistas não tiverem interessados em debater, a gente não vai debater. Queremos, pelo menos, criar uma oportunidade. Existe uma comunidade de São Paulo no Orkut. E eu levantei o tema. Foi só para fazer uma pesquisa mesmo. Muita gente falou mal, veio apedrejando. Em cada dez pessoas, dois apoiavam. Se em cada dez paulistanos, dois apoiarem, a gente vai ter, numa cidade de 10 milhões, 2 milhões. E isso é muita gente. Então, queremos pegar esses jovens, essas pessoas que querem mudar São Paulo, mudar não, pelo menos, melhorar.

Na primeira etapa, vocês querem levantar a discussão sobre a migração, mas o que vem depois?
Depois disso, vamos planejar. Eu entrei agora. Eu decidi falar, porque eles são muito conservadores. Eu disse: “Não seria interessante se vocês falassem agora. Vamos mudar o discurso”. Da forma radical que eles estão criando, não vão conseguir apoio de ninguém.

A ideia é abrandar o discurso para conseguir adesão, não impactar tanto?
A gente está utilizando métodos de publicidade, de promoção e de marketing, estudo de teses de algumas pessoas, que a gente está elaborando para poder montar o movimento. A gente quer fazer algo que conquiste o maior número de pessoas possível. Estamos conseguindo adesão de algumas pessoas com influência. A gente tem o presidente de um centro acadêmico de um curso na USP.

Qual curso?
Ele não me deu autorização para falar.

Mas vocês querem manter o anonimato?
Ele quer.

Não faz muito sentido. Se vocês querem dar visibilidade ao tema, soa incoerente.
Ele está representando a comunidade japonesa. É descendente. E tem outras pessoas que trabalham com ele. Eu, do Centro Acadêmico da Unip, outros de outras instituições. Anhembi-Morumbi... A gente está pegando pessoal da Uninove também, da Barra Funda. É um movimento de universitários.

Ponte Estaiada: cenário da TV Globo.
Quantas adesões vocês já tiveram. As pessoas que se agregaram pela internet se encontram?
Todos as mais de 600 adesões [assinaturas na petição virtual] foram muito comprometidas e decididas, se possível, a apoiar. As pessoas que assinaram realmente têm interesse em participar e sempre geram soluções e ideias para que a gente possa melhorar nosso plano. A gente tem 600 jovens que, a qualquer momento, se estiverem disponíveis, vão participar. Tem uma menina que veio de Campos do Jordão para conhecer a gente. Ainda mais agora. A gente tem 100 pessoas na cidade de São Paulo, que assinaram o manifesto, que estão dispostas a conversar, a entrar na reunião. E temos mais 600 pessoas do movimento separatista.

Onde vocês pretendem chegar?
Nossa meta é que isso seja discutido na Assembleia Legislativa, na Câmara Municipal. A gente quer que seja implantado algum tipo de política que possa administrar isso [migração]. Que fale: “Vocês não têm qualificação, então, vão fazer um curso de qualificação e ser alocados para outras áreas do Estado que oferecem mais oportunidades”. As pessoas que vivem em São Paulo e querem, mas não têm condições de voltar para a terra de onde fugiram... A cidade gerar essa oportunidade para elas. O pouco que a gente conquistar para uma cidade como São Paulo vai ser bastante.

Agora, leia a seguir a entrevista de Fabiana Pereira, a autora do manifesto. Ela defende a xenófoba Mayara Petrusco.

Querem vitimizar Nordeste, diz “Movimento São Paulo para paulistas”
Ana Cláudia Barros, para o Terra Magazine

A atendente de suporte técnico Fabiana Pereira, 35 anos, uma das articuladoras do “Movimento São Paulo para os paulistas”, sai em defesa da estudante de Direito Mayara Petrusco, apontada como uma das responsáveis por desencadear a onda de manifestações preconceituosas contra os nordestinos na internet após a vitória de Dilma Rousseff (PT).

Na internet, Mayara declarou que “nordestino não é gente, faça um favor a São Paulo, mate um nordestino afogado”, o que rendeu à universitária uma denúncia junto ao Ministério Público Federal, apresentada pela Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional de Pernambuco (OAB-PE). A entidade viu no ato a configuração dos crimes de racismo e de incitação pública à pratica delituosa, no caso, homicídio.

Para Fabiana, a estudante não se referiu a um assassinato literal e apenas estava “desabafando”.

“Acho também que não estão sendo debatidas quais as causas da revolta dela. O fato de, não que justifique, mas o fato de São Paulo sustentar o Bolsa Família e aí esses beneficiários emergem e São Paulo fica subjugado a um governo que não elegeu, né?!” “advoga” Fabiana Pereira.

Na interpretação da representante do movimento – cujo abaixo-assinado virtual já conta com quase 1.400 assinaturas –, o episódio foi usado para vitimizar o “pessoal do Nordeste”. Segundo ela, a solução para acabar com a “guerra” seria “que cada Estado tivesse autonomia para administrar os seus recursos”.

“Aí, ia parar essa guerra que existe. São Paulo sustenta e eles [nordestinos] decidem quem vai nos governar.”

Ao ser lembrada que mesmo se fossem excluídos votos do Norte e do Nordeste Dilma venceria, Fabiana argumenta:

“O Brasil, na verdade, parece que é dividido em duas culturas. Minas é mais identificada com o Nordeste, não sei se é por motivos de colonização. Não sei quais as causas. Se você olhar aquele mapa que dá meio vermelho, meio azul do [José] Serra e da Dilma, é sempre assim. Parece que um se identifica mais com uma ideologia e outro, com outra ideologia. Então, mesmo que tirasse o Nordeste, talvez ela se elegesse da mesma forma. Mas o pessoal não deixa de culpar... Culpar entre aspas, né?! Sabe que lá [Nordeste] é um celeiro mesmo, que vota no assistencialismo, no populismo.”

Confira a entrevista.
Terra Magazine – Você acompanhou a polêmica sobre as manifestações contra nordestinos na internet após a vitória da Dilma Rousseff?
Fabiana Pereira –Dei uma olhada sim.

A OAB de Pernambuco acionou o Ministério Público Federal contra a estudante de Direito Mayara Petrusco. A entidade considera que ela foi uma das responsáveis por ter desencadeado as manifestações de preconceito contra nordestinos. O que vocês, do movimento, acham dessa polêmica?
Acho que aquele negócio que ela falou de matar, afogar, é mais ou menos assim, que nem você fala: “Ah, mate todos os corintianos”. Sabe? Num sentido assim. Claro que ela não estava falando literalmente em matar. Acho que foi um sentimento de revolta. No mesmo sentido de falar: “Eu mato aquele infeliz”.

Então, você acha que ela falou aquilo como forma de expressar raiva?
É. Um desabafo ou algo assim.

Mas você acha que o tom foi exagerado?
Na internet, tem essas coisas dos dois lados. Acho também que não estão sendo debatidas quais as causas da revolta dela. O fato de, não que justifique, mas o fato de São Paulo sustentar o Bolsa Família e aí esses beneficiários emergem e São Paulo fica subjugado a um governo que não elegeu, né?! Então, essa é a essência da coisa. Claro que eu achei que o que ela [Mayara] falou talvez... não, mal interpretada. Na internet é comum esse bate-boca. Você acha também contra paulista gente falando um monte. E acabaram usando isso até para fazer um pouco de vítima, eu acho.

Como é? Desculpe, não entendi.
Acabaram usando tudo isso para colocar até um pouco como vítima, né?!

Colocar quem como vítima?
O pessoal do Nordeste. Olhando ao pé da letra, parece radical o que ela disse, mas eu creio que ela não foi literal. Foi um desabafo.

Você falou que não estão sendo discutidos os motivos da revolta dela [Mayara]. Em sua opinião, quais seriam esses motivos?
Então, essa questão de São Paulo, que fornece recursos para o Bolsa Família, por exemplo. E o pessoal de lá [do Nordeste] acaba elegendo um governo que... São Paulo fica subjugado a um governo que não elegeu, na verdade. Qual seria a solução? Seria que a democracia fosse mais subsidiária, que cada Estado tivesse autonomia para administrar os seus recursos. Aí, ia parar essa guerra que existe. São Paulo sustenta e eles [nordestinos] decidem quem vai nos governar.

Mas os recursos do Bolsa Família também vêm de outros Estados...
Os impostos federais, no site da Receita, São Paulo fornece 40% sozinho. Contando com tudo. Isso dá R$200 bilhões/ano e voltam 4%, segundo o Portal Transparência. E o Bolsa Família já custou mais de R$50 bilhões desde o começo. Uma coisa assim... Então, na prática, é São Paulo que sustenta mesmo. Tem sete estados que pagam mais impostos do que recebem. Do Sul, Amazonas...

Então, você entende o sentimento de revolta da Mayara. É isso?
Entendo. Olhando ao pé da letra parece agressivo. Mas não foi literal.

Um levantamento de Terra Magazine mostra que, mesmo sem os votos do Norte e do Nordeste, Dilma venceria. O que você acha disso?
O Brasil, na verdade, parece que é dividido em duas culturas. Minas é mais identificada com o Nordeste, não sei se é por motivos de colonização. Não sei quais as causas. Se você olhar aquele mapa que dá meio vermelho, meio azul do [José] Serra e da Dilma, é sempre assim. Parece que um se identifica mais com uma ideologia e outro, com outra ideologia. Então, mesmo que tirasse o Nordeste, talvez ela se elegesse da mesma forma. Mas o pessoal não deixa de culpar... Culpar entre aspas, né?! Sabe que lá [Nordeste] é um celeiro mesmo, que vota no assistencialismo, no populismo.

Em sua avaliação a Dilma ganhou por causa do Bolsa Família?
Não só do Bolsa Família, mas de toda essa ideologia populista. Mas o Bolsa Família interfere muito. Com certeza.

Em quem você votou para presidente?
Eu votei no Serra, porque me identifico mais com o livre mercado, com essa ideologia mais do progresso, de menos intervenção estatal na economia.

O Tiririca (PR), deputado federal eleito por São Paulo, teve uma votação expressiva. Como você vê isso?
Acho que não foi só o migrante. Com certeza houve muitos votos dos nordestinos, mas muito paulista que não tem muita consciência... A própria estrutura de educação no Brasil faz com que o paulista não ligue muito... Eu mesma, há três anos, não estava nem aí com nada. Então, muitos votaram de zoeira, não levaram muito a sério ou como protesto mesmo, mas acabaram dando um tiro no pé.

A propaganda do Tiririca foi muito contestada. No Ministério Público Eleitoral, houve várias ações contra ela. Todas negadas. Em uma das ações, a pessoa contestava porque o Tiririca dizia que iria defender os nordestinos, priorizava os nordestinos. Você avalia da mesma forma ou acha que há um exagero nessa interpretação?
Acho que até li isso em algum lugar. Então, se um candidato no Rio de Janeiro falasse que ia defender os direitos dos mineiros. Ou em Minas, um candidato que falasse que ia defender os direitos dos gaúchos. É mais ou menos assim. Ele está em São Paulo, dizendo que vai defender os direitos dos nordestinos. Tá certo, os que moram aqui. Mas São Paulo já tem representação inferior na Câmara, já é discriminado e aí ele fala que vai defender... A prefeitura da cidade dele também comemorou, porque ele falou que ia ajudar a prefeitura de lá. Então, não se sabe se ele vai tirar recursos de São Paulo para enviar para lá, defendendo outros lugares.

Leia o manifesto “São Paulo para os paulistas” que foi publicado no Jornal do Campus da USP.

Comentário do Limpinho:
1. Em São Paulo, a coisa está muito pior do que eu imaginava. Muito pior...

2. Fazer manifestação na Ponte Estaiada é sintomático. Quem é da capital de São Paulo sabe que o pano de fundo do jornalismo paulistano da Rede Globo é a Ponte Estaiada. Que coincidência!

3. Willian Godoy Navarro, mesmo medindo suas palavras, se entregou: “Essas pessoas [Movimento São Paulo para os paulistas] querem mudar São Paulo, mudar não, pelo menos, melhorar.”

4. A Fabiana Pereira, com todo respeito, não diz coisa com coisa: “Acabaram usando tudo isso [a xenofobia da Mayara] para colocar até um pouco como vítima, né?!”

5. Eles querem usar a mesma tática do Greenpeace, aquele movimento que se calou durante o vazamento de petróleo no Golfo do México, cuja culpa foi da British Petroleum, que se tornou um dos piores da história dos Estados Unidos. Só falta eles querem também seguir os Repórteres com, quer dizer, Sem Fronteiras.

6. O Limpinho é paulistano.

XENOFOBIA- "PÓS-ELEIÇÕES" e discursos "serristas paulistanos" retratam xenofobia contra os nordestinos do país!!!!

Mayara Petruso quer afogar nordestinos. Ela não é a única

02 de novembro de 2010 às 14:19 434 Comentários
A estudante de Direito Mayara Petruso atendendo ao chamado da campanha tucana que transformou a campanha numa guerra entre gente limpinha e a massa fedida, principalmente a que reside no Nordeste e vive do Bolsa Família, escreveu as mensagens reproduzidas acima na noite de domingo, logo após o anúncio da vitória de Dilma Roussef.
A estudante é uma típica paulistana de classe média alta. Um tipo que não gosta de estudar, adora consumir e que considera nordestino um ser inferior. Nada mais comum em almoços de domingo nos ambientes dessa elite branca paulistana do que ouvir gente falando coisas semelhantes ao que escreveu Mayara Petruso na sua conta no tuiter. Na cabeça da menina, ela não deve ter falado nada demais. Afinal, é isso que deve ouvir desde criança entre familiares e amigos.
Fui ao orkut de Mayara para checar minhas desconfianças. E confirmei tudo que imaginava. Ela deve morar na região Oeste de São Paulo, onde vive este blogueiro há muito tempo e onde este preconceito é ainda mais latente do que em outras bandas da cidade. Digo isto porque uma de suas comunidades é a do “Parque Villa Lobos”. Se morasse na Mooca provavelmente nem se lembraria de tal parque. Se vivesse nos Jardins, citaria o do Ibirapuera.
Mas há outras comunidades que revelam mais profundamente a alma da “artista” que escreveu o post mais famoso do pós-campanha. Um post que levou o debate sobre a questão do preconceito ao Nordeste ao TT mundial no tuiter.
A elas: “Perfume Hugo Boss, Eu acho sexy homens de terno, Rede Globo, CQC, MTV, Magoar te dá Tesão? e FMU Oficial”.
Não vou comentar suas comunidades “Eu acho sexy homens de terno” e nem “Magoar te dá tesão?” por considerar tais opções muito particulares. Mas em relação ao fato da moça estudar na FMU, a Faculdade Metropolitanas Unidas, queria fazer algumas considerações. Nada contra a instituição ou aos que nela estudam, mas pela situação social da garota, ela deve ter estudado em escola particular a vida inteira e se fosse um pouco mais esforçada teria entrado numa faculdade onde a relação candidato/vaga é um pouco mais dura.
Ou seja, como boa parte dessa classe média alta paulistana, Mayara é arrogante, mas não se garante. Muita garota da periferia, sem as mesmas condições econômicas que ela deve ter conseguido vôos mais altos, deve já ter obtido mais conquistas do que a de poder consumir o que bem entende por conta da boa situação financeira da família.
Ontem, Mayara pediu desculpas pelo “erro”. Disse que afinal de contas “errar é humano” e que “era algo pra atingir outro foco” e que “não tem problema com essas pessoas”. Não desceu do salto alto nem pra se penitenciar. Preferiu fazer de conta que era uma coisa menor, ao invés de pedir perdão, afirmar que era um erro injustificável e que entendia toda a revolta que seu post produzira.

“MINHAS SINCERAS DESCULPAS AO POST COLOCADO NO AR, O QUE ERA ALGO PRA ATINGIR OUTRO FOCO, ACABOU SAINDO FORA DE CONTROLE. NÃO TENHO PROBLEMAS COM ESSAS PESSOAS, PELO CONTRARIO, ERRAR É HUMANO, DESCULPA MAIS UMA VEZ.”

Ela foi criada para isso. Para dispensar esse tipo de tratamento a nordestinos e pobres e por isso a dificuldade de ser mais humilde. É difícil para esse grupo social entender que preconceito é crime por ensejar um tipo de xenofobia que coloca quem o pratica no mesmo patamar de um tipo como Hitler. Ela odeia nordestinos. Ele odiava judeus. A diferença é que ela não pode afogar de fato aqueles que vivem na parte de cima do mapa. Já o alemão pôde fazer o que bem entendia com aqueles que julgava ser um estorvo na sociedade que governava.
Mas Mayara é o produto de um tipo de discurso. Ela não merece ser responsabilizada sozinha por isso. Talvez seja o caso de alguma entidade vinculada à cultura nordestina mover um processo contra a estudante. Menos pra tirar dinheiro ou coisa do gênero, mais para utilizar o caso como exemplo. E fazer com que ela atue em espaços vinculados à cultura da região para aprender a ter mais respeito com a história e com o povo dessa parte do Brasil.
Os verdadeiros culpados são outros. São aqueles que com seus discursos preconceituosos têm alimentado esse separatismo brasileiro. E em boa medida isso se dá pela nossa “linda e bela” mídia comercial e mesmo pela manifestação de um certo setor da política que sempre que pode busca justificar a vitória da aliança liderada pelo PT como produto do “dinheiro dado a essa gente ignara e preguiçosa que vive no Nordeste a partir do Bolsa Família”. Ou Bolsa 171, nas palavras de Mayara.
Mas esse comportamente também é produto de um tipo de preconceito velhaco que nunca foi combatido de forma educativa e que é alimentado diariamente nos ambientes familiares dessa elite branca. Cláudio Lembo sabia do que estava falando quando usou essa expressão. Ou começamos a discutir esse preconceito com seriedade, tentando combatê-lo com leis claras, educação e cultura ou corremos o risco de mesmo avançando em aspectos econômicos,  retroceder do ponto de vista de outras conquistas democráticas.
Afinal, ainda há quem ache que pregar a morte daqueles que pensam diferente é apenas um problema de foco.
Atualizando: A Juliana Freitas me envia um vídeo feito por ela que demonstra como Mayara é muitos. É um vídeo triste, mas merece ser visto.





Serra plantou ódio; Brasil colhe manifestações contra nordestinos


O vídeo que reproduzo abaixo — e também na janela ao lado — é de revirar o estômago. Mas faz um bem danado: lança luz sobre um Brasil que muitas vezes não gostamos de ver. O Brasil do ódio.

Por Rodrigo Vianna, no blog Escrevinhador

A campanha conservadora movida pelos tucanos, a misturar religião e política, trouxe à tona o lodo que estava guardado no fundo da represa. A lama surgiu na forma de ódio e preconceito. Muita gente gosta de afirmar: no Brasil não há ódio entre irmãos, há tolerância religiosa. Serra jogou isso fora. A turma que o apoiava infestou a internet com calúnias. E, agora, passada a eleição, o twitter e outras redes sociais são tomadas por manifestações odiosas.

Como se vê no vídeo acima, não foi só a tal Mayara (estudante de Direito!!!) que declarou ódio aos nordestinos. Há muitos outros. Com nome, assinatura. É fácil identificar um por um. E processar a todos! O Ministério Público deveria agir. A Polícia Federal deveria agir.

E nós devemos estar preparados, porque Serra fez dessas feras da direita a nova militância tucana. Jogou no lixo a história de Montoro e Covas. Serra cavou a trincheira na direita. E o Brasil agora colhe o resultado da campanha odiosa feita por Serra.

Desde domingo, muita gente já fez as contas e mostrou: Dilma ganharia de Serra com ou sem os votos do Nordeste. Não dei destaque a isso porque acho que é – de certa forma – uma rendição ao pensamento conservador. Em vez de dizer que Dilma ganhou “mesmo sem o Nordeste”, deveríamos dizer: ganhou – também – por causa dos nordestinos. E qual o problema?

E deveríamos lembrar: Dilma ganhou também com o voto de quase 60% dos mineiros e dos moradores do estado do Rio. E ganhou com quase metade dos votos de paulistas e gaúchos.

(…)

fonte: www.revistaforum.com.br

 fonte: http://www.conversaafiada.com.br/


Serra e a péssima educação de SP: a culpa é dos nordestinos Mais... (clique aqui para ver os vídeos)

 

terça-feira, 2 de novembro de 2010

POR FALAR NISSO...

A Religião e as religiões africanas no Brasil1
Yvie Favero2

A religião de origem africana é cultuada no Brasil desde o século XVI, trazida da África pelos negros, escravos, arrancados de sua terra para este país, que hoje, depois de tantas perseguições, lutas e desafetos podem cultuar seus Deuses de forma livre.
Eduardo Cezimbra

Brasil: República Federativa, a maior da América do Sul. É um dos países mais populosos do mundo e um dos mais multirraciais. Com cerca de 45% da população composta de afrodescendentes, recebeu imigrantes da Itália, Espanha, França, Japão e muito mais, por isso mesmo, riquíssimo em cultura, em culturas! Assim, pensar em Brasil é pensar em brasilidade, tradições, costumes, crenças, sentimentos, língua e linguagens. Para falar e pensar o Brasil é preciso considerar seus sistemas simbólicos: sua arte, ciência, linguagens, relações econômicas e sua religião, aspectos este, foco deste texto.
Comecemos, então, a falar em religião: a expressão deriva do latim re-ligare, religar com o divino, no âmbito das concepções místicas, às percepções que vão além do mundo físico. A manifestação religiosa está presente em todas as culturas e pode ser definida como o conjunto das atitudes e atos pelos quais o homem se prende, se liga ao divino ou manifesta sua dependência em relação a seres invisíveis tidos como sobrenaturais. Os mitos engendrados milenarmente reatualizavam e ritualizavam convicções que mantinham a estrutura das sociedades.
Alguns estudos, como os promovidos por Engels e Durkhein, citados em BASTIDE(1989, p.10) e, depois, por VALÈRIO que, erroneamente chamaram algumas coletividades de “primitivas”, diziam que a forma religiosa traduzia a angústia do homem em relação às forças misteriosas da natureza que não pode domesticar. Todavia, as coletividades “contemporâneas” também exprimiriam suas angústias em face às forças sociais, economia, desemprego, globalização. Entretanto, classificar as religiões em primitivas ou não, foram maneiras preconceituosas e discriminatórias utilizadas pelo pensamento evolucionista. Tendo como parâmetro a sua religião, estudiosos europeus ordenaram e julgaram as chamadas “outras” sociedades. Nesse sentido, as consideradas atrasadas ficavam mais distantes do modelo de referência, isto é, o Europeu.
Classificações para as formas religiosas, como a cronológica, por exemplo, utilizam uma divisão em quatro grupos: Panteístas, Monoteístas, Politeístas e Ateístas. A classificação cronológica aqui citada é sugerida por VALÉRIO em Religião. Em busca da transcendência. O primeiro grupo remontaria à Pré-história. Estavam presentes em povos silvícolas das Américas, África e Oceania. A mitologia era transmitida pela oralidade. Deus era considerado o próprio mundo. Acreditava-se em espíritos e reencarnação, cultuavam os antepassados. Havia harmonia com a natureza, e o mundo era tido como eterno. Já, os monoteístas, surgiriam no último milênio antes de Cristo e indo até a Idade Média. Crença transmitida a partir de livros sagrados. Relação paternal entre o criador e as criaturas. Há um Messias e acreditava-se num evento renovador no final dos tempos. Para os politeístas diversos deuses criavam e destruíam o mundo. As histórias dos deuses se assemelhavam a dramas humanos. Existem diferentes registros literários sobre sua mitologia. Sociedades agráfas possuem tradições icônicas elaboradas. Surgido no século V depois de Cristo, os ateístas produziram seus textos com conteúdo filosófico, sem força dogmática. Acreditam na possibilidade da evolução espiritual a partir de um trabalho intimo.
Tal classificação é evolucionista e generalista, não considera as religiões africanas ou indígenas, o que pode significar desconhecimento destas formas religiosas ou um tipo de preconceito e discriminação em relação a tais manifestações.
Segundo Bastide(p.10), Deus não é mais que a imagem do capitalismo irracional. Daí, ser psicológica e sociológica a explicação definitiva da religião. Análises sociológicas procuraram explicar as religiões cujo sentido nasceria do esforço do trabalho humano em face à natureza ou contradições de um regime econômico. A área da psicologia considerou os reveses da vida ou suas contradições como fatores que agiriam em relação ao medo anti o irracional e controlável pelo homem.
A presença religiosa se dá de diferentes formas e não sempre pelo medo ou pela força, paz ou alegria, mas em diversas relações, que se dão de maneira ideológica, formando-se no sentido mais tradicional de ‘deformação inconsciente’, atuando nas infra-estruturas econômicas. (BASTIDE, p. 11).
As concepções religiosas interagem com os meios sociais onde foram gestadas, contudo, são vivas, não estáticas, podendo ser inúmeras em uma mesma sociedade, portanto, uma religião também expressa uma estrutura em seu dinamismo e as tendências de um contexto particular. São a comunhão e a expressão própria do vínculo entre o profano e o sagrado, está presente no social, o que não quer dizer que seja o social o “criador” da religião.
Portanto, faz-se necessário, ainda, levar em consideração que o conteúdo cultural exerce influência manifesta sobre as formas de organização social, por exemplo, o conteúdo da fé, protestante ou católica, que influi na organização adotada pelas igrejas. No entanto, não se pode deduzir que do conteúdo ou dos valores religiosos surgem as relações reais dos homens em sociedade.
Sociologicamente, as religiões são da ordem da cultura, portanto conhecimento adquirido, aprendido, transmitido e, assim, são condicionadas pelas relações existentes entre os homens em seus grupos sociais, de acordo com interesses dominantes, políticos, econômicos e biológicos. Estes fatores podem excluir certas posições possíveis da lógica espiritual, favorecê-las ou selecioná-las. Desta forma, a etnia ou a especificidade da matriz cultural, podem favorecer crenças, valores, ritos como formas comunitárias ou familiares de manifestação, não apenas em relação à religião, mas, também, a partir de suas representações plásticas, demonstradas, por exemplo, nos álbuns de Tintin(personagem das Histórias em Quadrinhos, criado na Bélgica, em 1929), em que
[...] a construção da face, a fisionomia dos habitantes nativos, a postura do corpo, o cenário e principalmente a relação entre os dois mundos, levam o leitor a concluir que um modelo de tipo humano, o branco europeu belga, é superior ao outro, o negro africano congolês. (SOUZA et al.., 2005, p.18/20)
Considerando que as relações entre os homens não são da mesma natureza que as relações entre os objetos, uma religião deve ser observada segundo a estrutura social da qual faz parte. E, também, na variabilidade possível, ou seja, há dinamismo para a expressão de seus símbolos, das relações entre os gêneros, grupos de idade, os religiosos que interpretam sentidos.

As religiões africanas e o Brasil
O caso das religiões africanas no Brasil oferece uma gama de modelos, valores, ideais ou idéias, uma rica simbologia segundo certa visão mística do mundo em correlação com o universo mítico e ritualístico. Estudar este suporte cultural, seus sentidos explícitos ou implícitos, ainda associado ao do grupo que dela participa é compreendê-las como fenômenos sociais.
As populações negras trazidas ao Brasil pertenciam a diferentes civilizações e provinham das mais variadas regiões africanas. Suas religiões eram partes de estruturas familiares, organizadas socialmente ou ecologicamente à meios biogeográficos. Com o tráfico negreiro, sentiram-se obrigadas a decifrar um novo tipo de sociedade, baseada na família patriarcal, latifundiária e em regime de castas étnicas (sistemas tradicionais, hereditários ou sociais de estratificação, baseados em classificações como raça, cultura, ocupação profissional. O termo também é usado para designar “cor”).
Durante o longo período de escravidão, mais de trezentos anos, ocorreram mudanças na economia brasileira, estrutura social rural ou urbana, nos processos de miscigenação. Com o advento da República, as religiões africanas sofrem o impacto da modificação na estrutura demográfica, bem como novas estratificações sociais
[...] uma vez que o negro seja camponês, artesão, proletário, ou constitua uma espécie de subproletariado, sua religião se apresentará diversamente ou exprimirá posições diversas, condições de vida e quadros sociais não identificáveis. (BASTIDE, 1989, P. 31).
Há de se compreender as relações de poder entre instituições por todo esse período de formação da sociedade. No aspecto religioso, ser europeu, católico, recebia um status diferente de qualquer matriz africana. As representações simbólicas do cristianismo, os valores morais eram mais aceitos, constituíam a oficialidade e eram associados à nacionalidade que também se firmava. Os descendentes de africanos, sobretudo as gerações nascidas no Brasil habilmente, construíram estratégias para as religiões de matriz africana criando aparentes sincretismos religiosos entre os deuses africanos e os santos católicos. Nesse sentido, produziram um fator de ajustamento do indivíduo à sociedade. O candomblé baiano, por exemplo, conservou muito do panteão mítico africano na religião que chamou de candomblé. Porém, a forma como existe no país não existe na África. Foi uma religião concebida no novo país. Este é o caráter de vitalidade das religiões, que é viva e passou por um longo processo de aculturação e transformação, que em alguns casos se converte em ideologia, mas nem sempre.
Para compreender a religiosidade afro-brasileira há que se considerar a escravidão, o trabalho artesanal dos libertos, quadros sociais como estrutura familiar, organização política, corporativa, religiosa e os aspectos geográficos, demográficos, políticos, econômicos e sociais em seus diferentes níveis. Todas essas inter-relações revelam a complexidade dos temas que envolvem origens religiosas, sobretudo, os africanos, neste país.

 
REFERÊNCIAS:
AUGUSTO, Jordan. Todos os caminhos são importantes. Sociedade Brasileira de Bugei. http://www.bugei.com.br/ensaios/index.asp?show=ensaio&id=312
BASTIDE, Roger. As Religiões Africanas No Brasil. Contribuição A Uma Sociologia Das Interpenetrações De Civilizações. 3ª edição. Livraria Pioneira Editora. São Paulo. 1989.
SOUZA, Andréa Lisboa de; SOUZA, Ana Lucia Silva; LIMA, Heloisa Pires; SILVA, Marcia. De olho na cultura: pontos de vista afro-brasileiros. UFBA- Centro de Estudos Afro-Orientais. Brasilia: Fundação Palmares. 2005.
http://www.ceao.ufba.br/livrosevideos/pdf/de%20olho%20na%20cultura_cap01.pdf
http://www.ceao.ufba.br/livrosevideos/pdf/de%20olho%20na%20cultura_cap04.pdf
ou : http://www.ceao.ufba.br/2007/livrosvideos.php para o dowload da obra toda
VALÉRIO, Marcos. Religião. Em busca da transcendência. In: http://www.xr.pro.br/Religiao.html – acesso em 02/08/2007