quarta-feira, 30 de março de 2011

Admirável Mundo Novo- Aldous Huxley




Ainda que o trailer esteja em inglês, as imagens dizem tudo. Qualquer semelhança com a realidade atual não é mera coincidência. Huxley escreve em 1931...




http://www.planonacionaldeleitura.gov.pt/clubedeleituras/upload/e_livros/clle000075.pdf


sei que já indiquei este vídeo, mas agora tenho o texto também... e, para quem está chegando agora é uma "boa pedida"

 “Toda verdade passa por três estágios.
No primeiro, ela é ridicularizada.
No segundo, é rejeitada com violência.
No terceiro, é aceita como evidente por si própria.”

Schopenhauer

    A servidão moderna é um livro e um documentário de 52 minutos produzidos de maneira completamente independente; o livro (e o DVD contido) é distribuído gratuitamente em certos lugares alternativos na França e na América latina. O texto foi escrito na Jamaica em outubro de 2007 e o documentário foi finalizado na Colômbia em maio de 2009. Ele existe nas versões francesa, inglesa e espanhola. O filme foi elaborado a partir de imagens desviadas, essencialmente oriundas de filmes de ficção e de documentários.

    O objetivo principal deste filme é de por em dia a condição do escravo moderno dentro do sistema totalitário mercante e de evidenciar as formas de mistificação que ocultam esta condição subserviente. Ele foi feito com o único objetivo de atacar de frente a organização dominante do mundo.

    No imenso campo de batalha da guerra civil mundial, a linguagem constitui uma de nossas armas. Trata-se de chamar as coisas por seus nomes e revelar a essência escondida destas realidades por meio da maneira como são chamadas.  A democracia liberal, por exemplo, é um mito já que a organização dominante do mundo não tem nada de democrático nem de liberal. Então, é urgente substituir o mito de democracia liberal por sua realidade concreta de sistema totalitário mercante e de expandir esta nova expressão como uma linha de pólvora pronta para incendiar as mentes revelando a natureza profunda da dominação presente.

    Alguns esperarão encontrar aqui soluções ou respostas feitas, tipo um pequeno manual de “como fazer uma revolução?” Esse não é o propósito deste filme. Melhor dizendo, trata-se mais exatamente de uma crítica da sociedade que devemos combater. Este filme é antes de tudo um instrumento militante cujo objetivo é fazer com que um número grande de pessoas se questionem e difundam a crítica por todos os lados e sobretudo onde ela não tem acesso. Devemos construir juntos e por em prática as soluções e os elementos do programa. Não precisamos de um guru que venha explicar à nós como devemos agir: a liberdade de ação deve ser nossa característica principal. Aqueles que desejam permanecer escravos estão esperando o messias ou a obra que bastando seguir-la  ao pé da letra, libertam-se. Já vimos muitas destas obras ou destes homens em toda a história do século XX que se propuseram constituir a vanguarda revolucionária e conduzir o proletariado rumo a liberação de sua condição. Os resultados deste pesadelo falam por si mesmos.

    Por outro lado, condenamos toda espécie de religião já que as mesmas são geradoras de ilusões e nos permite aceitar nossa sórdida condição de dominados e porque mentem ou perdem a razão sobre muitas coisas. Todavia, também condenamos todo astigmatismo de qualquer religião em particular. Os adeptos do complot sionista ou do perigo islamita são pobres mentes mistificadas que confundem a crítica radical com a raiva e o desdém. Apenas são capazes de produzir lama. Se alguns dentre eles se dizem revolucionários é mais com referência às “revoluções nacionais” dos anos 1930-1940  que à verdadeira revolução liberadora a qual aspiramos. A busca de um bode expiatório em função de sua pertencia religiosa ou étnica é tão antiga quanto a civilização e não é mais que o produto das frustrações daqueles que procuram respostas rápidas e simples frente ao mal que nos esmaga. Não deve haver ambigüidade com respeito a natureza de nossa luta. Estamos de acordo com a emancipação da humanidade inteira, fora de toda discriminação. Todos por todos é a essência do programa revolucionário ao qual aderimos.

    As referências que inspiraram esta obra e mais propriamente dita, minha vida, estão explicitas neste filme: Diógenes de Sinope, Etienne de La Boétie, Karl Marx e Guy Debord. Não as escondo e nem pretendo haver descoberto a pólvora. A mim, reconhecerão apenas o mérito de haver sabido utilizar estas referências para meu próprio  esclarecimento. Quanto àqueles que dirão que esta obra não é suficientemente revolucionária, mas bastante radical ou melhor pessimista, lhes convido a propor sua própria visão do mundo no qual vivemos. Quanto mais numerosos em  divulgar estas idéias, mais rapidamente surgirá a possibilidade de uma mudança radical.

    A crise econômica, social e política revelou o fracasso patente do sistema totalitário mercante. Uma brecha surgiu. Trata-se agora de penetrar mas de maneira estratégica. Porém, temos que agir rápido pois o poder, perfeitamente informado sobre o estado de radicalização das contestações, prepara um ataque preventivo sem precedentes. A urgência dos tempos nos impõe a unidade em vez da divisão pois o quê nos une é mais profundo do quê o que nos separa. É muito fácil criticar o quê fazem as organizações, as pessoas ou os diferentes grupos, todos nós reclamamos uma revolução social. Mas na realidade, estas críticas são provenientes do imobilismo que tenta convencer-nos de que nada é possível.

    Não devemos deixar que o inimigo nos vença, as antigas discussões de capela no campo revolucionário devem, com toda nossa ajuda, deixar lugar à unidade de ação. Deve-se duvidar de tudo, até mesmo da dúvida.

    O texto e o filme são isentos de direitos autorais, podem ser recuperados, divulgados, e projetados sem nenhuma restrição. Inclusive são totalmente gratuitos, ou seja, não devem de nenhuma maneira ser comercializados. Pois seria incoerente propor uma crítica sobre a onipresença das mercadorias com outra mercadoria. A luta contra a propriedade privada, intelectual ou outra, é nosso golpe fatal contra a dominação presente.

    Este filme é difundido fora de todo circuito legal ou comercial, ele depende da boa vontade daqueles que asseguram sua difusão da maneira mais ampla possível. Ele não é nossa propriedade, ele pertence àqueles que queiram apropriar-se para que seja jogado na fogueira de nossa luta.

Jean-François Brient e Victor León Fuentes

da servidão moderna



Capítulo I: Epigrafo

“Meu otimismo está baseado na certeza que esta civilização vai desmoronar. Meu pessimismo em tudo aquilo que ela faz para arrastar-nos em sua queda.”



la terre




Capítulo II: A servidão voluntária

“Que época terrível esta, onde idiotas dirigem cegos.”
William Shakespeare


foule



  A servidão moderna é uma escravidão voluntária, aceita por essa multidão de escravos que se arrastam pela face da terra. Eles mesmos compram as mercadorias que lhes escravizam cada vez mais. Eles mesmos correm atrás de um trabalho cada vez mais alienante, que lhes é dado generosamente se estão suficientemente domados. Eles mesmos escolhem os amos a quem deverão servir. Para que essa tragédia absurda possa ter sucedido, foi preciso tirar desta classe, a capacidade de se conscientizar sobre a exploração e a alienação da qual são vítimas. Eis então a estranha modernidade da época atual. Ao contrário dos escravos da Antiguidade, aos servos da Idade Média e aos operários das primeiras revoluções industriais, estamos hoje frente a uma classe totalmente escrava, que  no entanto não se dá conta disso ou melhor ainda, que não quer enxergar. Eles não conhecem a rebelião, que deveria ser a única reação legítima dos explorados. Aceitam sem discutir a vida lamentável que foi planificada para eles. A renúncia e a resignação são a fonte de sua desgraça.

Eis então o pesadelo dos escravos modernos que só aspiram a deixar-se levar pela dança macabra do sistema de alienação.

A opressão se moderniza estendendo-se por todas as partes, as formas de mistificação que permitem ocultar nossa condição de escravos.
Mostrar a realidade tal qual é na verdade e não tal como mostra o poder constitui a mais autentica subversão.

Somente a verdade é revolucionária




 Capítulo III: A organização territorial e o habitat


“O urbanismo é a tomada do meio ambiente natural e humano pelo capitalismo que, ao desenvolver-se em sua lógica de dominação absoluta, refaz a totalidade do espaço como seu próprio cenário.”

Guy Debord, A sociedade do espetáculo



immeubles


    À medida que o homem constrói seu mundo com a força do trabalho alienado, o cenário deste mundo se converte na prisão onde terão que viver. Um mundo sórdido, sem sabor, nem odor, que leva consigo a miséria do modo de produção dominante.
Este cenário está em eterna construção. Nada nele é estável. A remodelação permanente do espaço que nos envolve se justifica pela amnésia generalizada e pela insegurança na qual devem viver seus habitantes. Trata-se de refazer tudo a imagem do sistema: o mundo se torna cada dia mais sujo e barulhento, como uma usina.
Cada parcela deste mundo é propriedade de um Estado ou de um particular. Este roubo social que é a apropriação exclusiva do solo, se encontra materializada na onipresença de muros, barreiras, e fronteiras... São as marcas visíveis desta separação que invade tudo.
Mas ao mesmo tempo, a unificação do espaço, de acordo com os interesses da cultura mercante, é o grande objetivo da nossa triste época. O mundo deve transformar-se em uma imensa autopista, racionalizada ao extremo, para facilitar o transporte das mercadorias. Todo obstáculo, natural ou humano, deve ser destruído.
O ambiente onde se aglomera esta massa servil é o fiel reflexo de sua vida: se assemelha a jaulas, a prisões, a cavernas. Porém contrariamente aos escravos e aos prisioneiros, o explorado dos tempos modernos deve pagar por sua jaula.



““Porque não é o homem mas o mundo que se tornou um anormal.”
Antonin Artaud


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Capítulo IV: A mercadoria

“A primeira vista, a mercadoria parece uma coisa simples, trivial, evidente, porém, analisando-a, vê-se complicada, dotada de sutilezas metafísicas e discussões teológicas.”


O Capital, Karl Marx, capítulo I, livro 4.


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    E é neste lugar estreito e lúgubre, onde o escravo moderno acumula as novas mercadorias que deveriam, segundo as mensagens publicitárias onipresentes, trazer-lhe a felicidade e a plenitude. Porém quanto mais acumula mercadorias, mais ele se afasta da oportunidade de ser feliz.

“Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?
                    Marcos 8, 36

    La mercadoria, ideológica por essência, despoja de seu trabalho aquele que a produz e despoja de sua vida aquele que a consume. No sistema econômico dominante, já não é mais a demanda que condiciona a oferta, mas a oferta que determina a demanda. Então é assim que de maneira periódica, surgem novas necessidades que são rapidamente consideradas como vitais para a maioria da população: primeiro foi o radio, depois o carro, a televisão, o computador e agora o telefone celular.
    Todas estas mercadorias, distribuídas massivamente em um curto lapso de tempo, modificam profundamente as relações humanas: servem por um lado para isolar os homens um pouco mais de seu semelhante e por outro a difundir as mensagens dominantes do sistema. As coisas que se possuem acabam por possuir-nos.



 Capítulo V: A Alimentação

“O que vem a ser alimento para um é veneno para o outro.”
Paracelso


nourriture

   
    Porém é quando se alimenta que o escravo moderno ilustra melhor o estado de decadência em que se encontra. Dispondo de um tempo cada vez mais limitado para preparar a comida que ingurgita, ele se vê obrigado a engolir rápido o que a indústria agroquímica produz, errando pelos supermercados à procura dos ersatzes que a sociedade da falsa abundância consenti em dar-lhe. Ai ainda, só lhe resta a ilusão da escolha. A abundância dos produtos alimentícios apenas dissimula sua degradação e sua falsificação. Não são mais que organismos geneticamente modificados, uma mistura de colorantes e conservantes, de pesticidas, de hormônios e de outras tantas invenções da modernidade. O prazer imediato é a regra do modo de alimentação dominante, também é a regra de todas as formas de consumo. E as conseqüências que ilustram esta forma de alimentação se vêem em todas as partes.

    Mas é frente a indigência da maioria que o homem ocidental goza de sua posição e de seu consumismo frenético. Em vista disso, a miséria está em todos os lados onde reina a sociedade totalitária mercante. A escassez é o reverso da moeda da falsa abundância. E num sistema que promove a desigualdade como critério de progresso, mesmo se a produção agro-química é suficiente para alimentar a totalidade da população mundial, a fome nunca deverá desaparecer.

stão convencidos de que o homem, espécie pecadora por excelência, domina a criação. Como  se todas as outras criaturas tivessem sido criadas apenas para servir-lhes a comida, a roupa, para serem martirizadas e exterminadas.” 
Isaac Bashevis Singer

    A outra conseqüência da falsa abundância alimentícia é a generalização das usinas de concentração e de exterminação massiva e bárbara das espécies que servem de alimento aos escravos. Esta é a real essência do modo de produção dominante. A vida e a humanidade não resistem ante o desejo de proveito de certos indivíduos.


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Capítulo VI: A destruição do meio ambiente

«Que triste é pensar que a Natureza fala e que a espécie humana não a escuta»
Victor Hugo


puits de petrole en feu


    E a espoliação dos recursos do planeta, a abundante produção de energia ou de mercadorias, o lixo e os resíduos do consumo ostentoso, hipotecam a possibilidade de sobrevivência de nossa Terra e das espécies que nela habitam. Porém para deixar livre curso ao capitalismo selvagem, o crescimento econômico nunca deve parar. É preciso produzir, produzir e reproduzir mais ainda.

  E são os mesmo poluidores que se apresentam hoje como salvadores potenciais do planeta. Estes imbecis da indústria do espetáculo patrocinados pelas empresas multinacionais tentam convencer-nos de que uma simples mudança em nossos hábitos seria suficiente para salvar o planeta de um desastre.  E enquanto nos culpam, continuam poluindo sem cessar, nosso meio ambiente e nosso espírito. Essas pobres teses pseudo-ecológicas são repetidas pelos políticos corruptos em seus slogans publicitários. Porém nunca propõem uma mudança radical no sistema de produção. Trata-se, como sempre, de mudar alguns detalhes para que tudo fique como antes.



Capítulo VII: O trabalho

Trabalho, do latin Tripalium, três paus, instrumento de tortura.


horloge


    Mas para entrar na ronda do consumo frenético, é necessário ter dinheiro e para conseguir dinheiro, é preciso trabalhar, ou  seja vender-se. O sistema dominante fez do trabalho seu principal valor. E os escravos devem trabalhar mais e mais para pagar a crédito sua vida miserável. Eles estão esgotados de tanto trabalhar, perdem a maior parte de sua energia e têm que suportar as piores humilhações. Passam toda sua vida realizando uma atividade extenuante e insidiosa que é proveitosa apenas para alguns.
    A invenção do desemprego moderno tem como objetivo assustar-los e fazê-los agradecer sem parar a generosidade do poder que se mostra tão generoso com eles. Que fariam sem essa tortura que é o trabalho? E são essas atividades alienantes que são apresentadas como libertadoras. Que mesquinhez e que miséria!

    Sempre apressados pelo cronômetro ou pela chibata, cada gesto dos escravos é calculado afin de aumentar a produtividade. A organização científica do trabalho constitui a real essência da desapropriação dos trabalhadores, seja do fruto de seu trabalho, mas também do tempo que eles passam na produção automática das mercadorias ou dos serviços. O papel do trabalhador se confunde com o da máquina nas usinas, com o do computador nas oficinas. O tempo pago não volta mais.
    Assim, a cada trabalhador é atribuído um trabalho repetitivo, seja ele intelectual ou físico. Ele é um especialista em seu domínio de produção. Essa especialização encontra-se na escala do planeta, no âmbito da divisão internacional do trabalho. Concebe-se em Ocidente, se produz na Ásia, se morre na África.



Capítulo VIII: A colonização de todos os setores da vida


“é o homem inteiro que é condicionado ao comportamento produtivo pela organização do trabalho, e fora da fábrica ele conserva a mesma pele e a mesma cabeça.”

Christophe Dejours


publicité vacances


    O escravo moderno teria sido capaz de se contentar de sua servidão ao trabalho, mas à medida que o sistema de produção coloniza todos os setores da vida, o dominado perde seu tempo com lazeres, com diversões e férias organizadas. Em nenhum momento de seu cotidiano, ele foge da influência do sistema que faz parte de cada instante de sua vida. É um escravo a tempo integral.


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 Capíulo IX: A medicina mercantil

"A medicina faz-nos morrer mais...”
Plutarco


laboratoire


    A origem dos males do escravo moderno está na degradação generalizada de seu ambiente, do ar que respira, e da comida que ele consome; o stress provocado pelas suas condições de trabalho e pelo conjunto de sua vida social.
    Sua condição subserviente é um mal que nunca encontrará remédio. Somente a total liberação da condição na qual ele se encontra, pode permitir ao escravo moderno se liberar de seus sofrimentos.

    A medicina ocidental só conhece um remédio contra os males dos quais sofrem os escravos modernos: a mutilação. É à base de cirurgias, de antibiótico ou de quimioterapia que se trata os pacientes da medicina mercantil. Nunca se ataca a origem do mal, senão que a suas conseqüências, pelo motivo de que esta busca da origem do mal nos conduziria inevitavelmente à condenação fatal da organização social em toda sua totalidade.

    Assim como ele transformou todos os detalhes de nosso mundo em simples mercadoria, o sistema atual fez de nosso corpo uma mercadoria, um objeto de estudo e de experiências para os pseudo-aprendizes de medicina mercantil e para a biologia molecular. Os donos do mundo já estão prontos para patentear os seres vivos.
    A seqüencial completa do ADN do genoma humano é o ponto de partida de uma nova estratégia posta em ação pelo poder. A descodificação genética não tem outro objetivo que o de amplificar consideravelmente as formas de dominação e de controle.

    Depois de tudo, nosso corpo também não nos pertence.




 Capítulo X: A obediência como segunda natureza

“De tanto obedecer, adquirimos reflexos de submissão.”

Anônimo


rat de laboratoire


    O melhor de sua vida foge entre seus dedos, mas ele prossegue assim, pois já está acostumado a sempre obedecer. A obediência se tornou sua segunda natureza. Ele obedece sem saber por qual razão, simplesmente porque ele sabe que deve obedecer. Obedecer, produzir e consumir, eis ai o trítico que domina sua vida. Obedece-se aos pais, aos professores, aos patrões, aos proprietários, aos comerciantes, obedecem-se também as leis, as forças da ordem e a todos os tipos de poderes, pois ele não sabe fazer outra coisa. Não existe algo que lhe dê mais medo que a desobediência, já que desobedecer, aventurar, mudar, é muito arriscado. Assim como uma criança que perde de vista seus pais, o escravo moderno se sente perdido sem o poder que o criou. Então ele continua obedecendo.

    É o medo que nos fez escravos e que nos mantêm nesta condição. Baixamos a cabeça frente aos donos do mundo, aceitamos esta vida de humilhação e de miséria somente por medo.
    No entanto, dispomos da força numérica frente a esta minoria que governa. A força deles não sai de seus policiais, mas de nosso consentimento. Justificamos nossa covardia diante do enfrentamento legítimo contra as forças que nos oprime com um discurso cheio de humanismo moralizador. A rejeição da violência revolucionária está ancorada nos espíritos daqueles que se opõem ao nome dos valores que esse mesmo sistema nos ensinou.
    Porém, quando se trata de conservar sua hegemonia, o poder não hesita em se servir da violência.





 Capítulo XI: A repressão e a violência

“Sob um governo que prende qualquer homem injustamente, o único lugar digno para um homem justo é também a prisão.”
Henry David Thoreau, A desobediência civil


 foule 1984


    No entanto, ainda existem indivíduos que escapam ao controle das consciências, mas estão sob vigilância. Todo ato de rebelião ou de resistência está de fato assimilada a uma atividade desviada ou terrorista. A liberdade só existe para aqueles que defendem os imperativos mercantis. A oposição real ao sistema dominante, infelizmente, é totalmente clandestino. Para estes opositores, a repressão é a regra em uso. E o silêncio da maioria dos escravos frente a essa repressão está justificado na aspiração mediática e política que nega o conflito existente na sociedade atual. 


Capítulo XII: o dinheiro

“O que outrora se fazia “por amor a Deus”, hoje se faz por amor do dinheiro, isto é, daquilo que hoje confere o sentimento de poder mais elevado e a boa consciência.”

Aurora, Nietzsche


billet


    Como todos os seres oprimidos da historia, o escravo moderno precisa de seu misticismo e de seu deus para anestesiar o mal que lhe atormenta e o sofrimento que o sufoca. Mas este novo deus, a quem entregou sua alma, não é nada mais que nada. Um pedaço de papel, um número que apenas tem sentido porque todo mundo decidiu dar-lhe. É em nome desse novo deus que ele estuda, que ele trabalha, que ele luta e se vende. É em nome desse novo deus que abandonou seus valores e está disposto a fazer qualquer coisa. Ele acredita que quanto mais tem dinheiro mais se libertará dos problemas dentro dos quais ele está aprisionado.  Como se a possessão andasse de mãos dadas com a liberdade. A liberação é uma ascese que provém do domínio de si mesmo; um desejo e uma vontade de atuar. Está no ser e não no ter. Porém é preciso decidir-se a não mais servir, nem obedecer. É preciso também romper com esse hábito que, ao parecer, ninguém ousa recriminar.



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Capitulo XIII: Não há alternativa na organização social dominante

Acta est fabula
(a peça está representada)


horloge


   Ora, escravo moderno está convencido de que não existe alternativa na organização do mundo atual. Ele se resignou a esta vida porque pensa que não pode haver outra. E é ai mesmo que se encontra a força da dominação presente: entreter a ilusão desse sistema que colonizou toda a face da Terra é o fim da história. Convenceu a classe dominada que adaptar-se a sua ideologia é como adaptar-se ao mundo tal qual se mostra e como sempre foi. Sonhar com outro mundo se tornou um crime criticado unanimemente pelos meios de comunicação e os poderes públicos. O criminoso é na realidade aquele que contribui, consciente ou não, na demência da organização social dominante. Não existe loucura maior que a do sistema atual.


Capítulo XIV: A imagem

E, se não, fica sabendo ó rei, que não serviremos a teus deuses nem adoraremos a estátua de ouro que levantaste.

Antigo Testamento, Daniel 3 :18


 panneaux


    Frente à devastação do mundo real, é preciso que o sistema atual colonize a consciência dos escravos. É por isso que no sistema dominante, as forças de repressão são precedidas pela dissuasão, que desde a infância, realiza sua obra de formação de escravos. Eles devem esquecer-se de sua condição servil, de sua prisão, e de sua vida miserável. Basta olhar essa multidão hipnotizada frente as telas que acompanham sua vida cotidiana. Eles enganam sua insatisfação permanente com o reflexo manipulado de uma vida sonhada, feita de dinheiro, de glória e de aventura. Mas seus sonhos são tão lamentáveis como sua vida miserável.

    Existem imagens para todos e por todos os lados. Essas imagens levam consigo a mensagem ideológica da sociedade moderna e serve de instrumento de unificação e de propaganda. Vão crescendo à medida que o homem é desapropriado de seu mundo e de sua vida.

    A criança é a primeira vítima destas imagens, pois se trata de sufocar a liberdade desde o berço. É necessário tornar-los estúpidos e tirar-lhes toda capacidade de reflexão e de crítica. Tudo isso se faz, evidentemente, com a cumplicidade desconcertante dos pais que não buscam se quer resistir frente à força imponente de todos os meios modernos de comunicação. Eles mesmos compram todas as mercadorias necessárias para escravizar sua progenitura. Desapropriam-se da educação de seus filhos e deixam que o sistema alienador e medíocre, se encarregue dela.

    Existem imagens para todas as idades e para todas as classes sociais. Os escravos modernos confundem essas imagens com cultura e, às vezes, com arte. Recorrem-se aos instintos mais baixos para vender qualquer mercadoria. E, é a mulher duplamente escrava da sociedade atual, que paga o preço mais alto. Ela é apresentada como simples objeto de consumo. A revolta foi também transformada em uma imagem que se vende para melhor destruir seu potencial subversivo. A imagem ainda é, até hoje, a forma de comunicação mais direta e mais eficaz: ela cria modelos, aliena as massas, menti, e promove frustrações. Difundi-se a ideologia mercantil pela imagem, pois o objetivo continua sendo o mesmo: vender, modelos de vida ou produtos, comportamentos ou mercadorias. Vender é o único que importa. 



 Capítulo XV: A diversão

“A televisão aliena  aos que a vêm, e não aos que a fazem.”

Patrick Poivre d’Arvor


public télévision


    Estas pobres criaturas se divertem, mas esse divertimento só serve para distrair os mesmos do verdadeiro mal que lhes afeta. Deixaram que fizessem de suas vidas qualquer coisa e fingem sentirem-se orgulhosos por isso. Tentam transmitir uma satisfação, mas ninguém acredita. Não conseguem se quer enganar-se a si mesmos quando se deparam com reflexo frio do espelho da vida. Assim perdem tempo com estúpidos que lhes fazem rir e cantar, sonhar ou chorar.
    Através do esporte midiatizado se representa o êxito e o fracasso, os esforços e as vitórias, que os escravos modernos deixaram de viver em seu cotidiano. Sua insatisfação lhe incita a viver por procuração frente ao aparelho de televisão. Assim como os imperadores da Roma antiga compravam a submissão do povo com pão e jogos, hoje em dia é com diversões e consumo do vazio que se compra o silêncio dos escravos.



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 Capítulo XVI: A linguagem

 “Nós acreditamos que dominamos as palavras, mas são as palavras que nos dominam.”

Alain Rey


 bouche vendetta


    O controle das consciências passa essencialmente pela utilização viciada da linguagem utilizada pela classe economicamente e socialmente dominante. Sendo o detentor de todos os meios de comunicação, o poder difusa a ideologia mercantil através da definição petrificada, parcial e falsa que ele dá das palavras.
    As palavras são apresentadas como neutras e sua definição como evidente. Porém estando sob controle do poder, a linguagem designa sempre algo muito diferente da vida real.  É antes de tudo uma linguagem de resignação e impotência, a linguagem da aceitação passiva das coisas tais como são e tais quais devem permanecer. As palavras trabalham por conta da organização dominante da vida e o fato mesmo de utilizar a linguagem do poder nos condena a impotência.
    O problema da linguagem está no centro da luta pela emancipação humana. Não é uma forma de dominação que se junta a outras, mas o coração mesmo do projeto de submissão do sistema mercantil totalitário.

    Para que uma mudança radical surja de novo, é preciso uma retomada radical da linguagem, e também da comunicação real entre as pessoas. É nisto que o projeto revolucionário se une ao projeto poético. Na efervescência popular, a palavra é tomada e reinventada por grupos extensos. A espontaneidade criadora se apodera de cada um e nos reúne a todos.
   


 Capítulo XVII: A ilusão do voto e da democracia parlamentar

“Votar é abdicar.”

Élisée Reclus


parlement


    No entanto, os escravos modernos ainda se vêm como cidadãos. Eles acreditam que votam realmente e decidem livremente quem vai dirigir seus negócios. Como se eles ainda tivessem escolha. Apenas conservaram a ilusão. Vocês acreditam que ainda existe uma diferença fundamental quanto à escolha da sociedade na qual nós queremos viver entre o Partido Socialista e a Direita Populista na França, entre os Democratas e os Republicanos nos Estados Unidos, entre os Trabalhistas e Conservadores no Reino Unido? Não existe oposição, pois os partidos políticos dominantes estão de acordo sobre o essencial que é a conservação da atual sociedade mercantil.
    Não existem partidos políticos susceptíveis de chegar ao poder que duvidem do dogma do mercado. E são estes partidos que com a cumplicidade mediática monopoliza as aparências. Discutem por pequenos detalhes esperando que tudo fique onde está.  Brigam por saber quem ocupará os lugares oferecidos pelo parlamentarismo mercantil. Estas estúpidas briguinhas são difundidas pelos meios na intenção de ocultar um verdadeiro debate sobre a escolha da sociedade na qual desejamos viver. A aparência e a futilidade dominam profundamente o afronto e as idéias. Tudo isto não se parece nem de perto nem de longe a uma democracia.
    A democracia real se define primeiro e antes de tudo pela participação massiva dos cidadãos na gestão dos interesses da cidade. Ela é direta e participativa e encontra sua maior expressão na assembléia popular e no diálogo permanente sobre a organização da vida comum. A forma representativa e parlamentar que usurpa o nome da democracia limitam o poder dos cidadãos pelo simples direito ao voto, ou seja, a nada, tão real, que não existe diferença entre o cinza claro e o cinza escuro. As cadeiras do Parlamento estão ocupadas pela imensa maioria da classe econômica dominante, seja ela de direita ou da pretendida esquerda social-democrática.

    O poder não é para ser conquistado, ele tem que ser destruído. O poder é tirano por natureza, seja ele exercido por um rei, por um ditador ou um presidente eleito. A única diferença no caso da democracia parlamentar é que os escravos têm a ilusão de que podem escolher eles mesmos o mestre que eles deverão servir. O direito ao voto fez dos mesmos cúmplices da tirania esmagadora. Eles não são escravos porque existem amos, senão que existem amos porque decidiram permanecerem escravos.


Capítulo XVIII: O sistema mercantil totalitário

“A natureza não criou amos nem escravos, eu não quero dar nem receber leis.”
Denis Diderot


 satelite


    O sistema dominante se define então pela onipresença de sua ideologia mercante.  Ela ocupa ao mesmo tempo todo o espaço e todos os setores da vida. Ela não diz nada mais que: Produza, venda, consuma, acumula! Ela reduziu todas as relações humanas em relações mercantes e considera nosso planeta como uma simples mercadoria. O dever que nos impõe é o trabalho servil. O único direito que ele reconhece é o direito a propriedade privada. O único deus que ele adora é o dinheiro.  
    O monopólio da aparência é total. Somente aparecem os homens e os discursos favoráveis na ideologia dominante. A crítica deste mundo está afogada no mar mediático que determina o que é bem ou mal, o que se pode ver ou não.

    A onipresença da ideologia, o culto ao dinheiro, monopólio da aparência, partido único disfarçado de pluralismo parlamentar, ausência de uma oposição visível, repressão sob todas as formas, vontade de transformar o homem e o mundo. Eis o verdadeiro rosto do totalitarismo moderno que chamamos “democracia liberal”, porém é necessário chamá-la pelo seu verdadeiro nome: o sistema mercantil totalitário.

    O homem, a sociedade e o conjunto de nosso planeta estão ao serviço desta ideologia. O sistema mercantil totalitário realizou o que nenhum totalitarismo conseguiu fazer antes: unificar o mundo a sua imagem. Hoje já não existe exílio possível.



Capítulo XIX: Perspectivas


    À medida que a opressão se estende por todos os setores da vida, a revolta toma aspecto de uma guerra social. Os motins renascem e anunciam a futura revolução.

    A destruição da sociedade mercantil totalitária não é um caso de opinião. É uma necessidade absoluta num mundo que já está condenado. Pois o poder está em todos os lados, deve ser por todas as partes e todo o tempo que devemos combatê-lo.

    A reinvenção da linguagem, o transtorno permanente da vida cotidiana, a desobediência e a resistência são as palavras mágicas da revolta contra a ordem estabelecida. Mas para que desta revolta surja uma revolução, é preciso reunir as subjetividades em uma frente comum.

    É na unidade de todas as forças revolucionárias que devemos trabalhar. Isso só se pode conseguir quando temos consciência de nossos fracassos passados: nem o reformismo estéril, nem a burocracia totalitária não podem ser uma solução para nossa insatisfação. Trata-se de inventar novas formas de organização e de luta.

    A autogestão nas empresas e a democracia direta na escala comunal constituem as bases desta nova organização que deve ser anti-hierárquica tanto na forma quanto no conteúdo.


O poder não é para ser conquistado, ele deve ser destruído.






Capítulo XX: Epílogo

“Cavalheiros, a vida é muito curta… Se nós vivemos, vivemos para andar sobre a cabeça dos reis.”

William Shakespeare, Henrique IV


lance pierre contre police

émeutes coktail molotov

explosion parlement


Jean-François Brient
Tradução: Elisa Gerbenia Quadros




FICOU CURIOSO? JÁ POSTEI O VÍDEO AQUI HÁ ALGUNS MESES, MAS SE QUISER BAIXAR O VÍDEO E/OU O LIVRO, O SITE QUE TEM TODAS ESTAS INFORMAÇÕES:



http://www.delaservitudemoderne.org/portugues1.html




domingo, 27 de março de 2011

material - Direitos Humanos (filosofia política)

No curso para professores "Redefor", foi disponibilizado um material e links muito interessantes para o conhecimento não só de professores de Filosofia ou Sociologia, mas para todos que fazem parte desta sociedade "humana"...

Segue:


Tema 4. Violência e Disciplina na Atualidade
• 4.1. Contexto • 4.2. Breve introdução histórica  • 4.3. Hannah Arendt  • 4.4. Michel Foucault 4.  Violência e Disciplina na Atualidade 


4.1. Contexto
A violência é um tema que grita em nosso cotidiano de nosso grande e poderoso Brasil. Vemos a violência privada de assassinatos, latrocínios, estupros, e a violência pública dos agentes da lei contra infratores e inocentes, eventualmente com o recurso da tortura, para combater o crime e também contra grevistas e manifestantes para garantir a ordem cívica. Muitas vezes vemos as pessoas defenderem a violência e criticarem os direitos humanos, não percebem que legitimam uma espiral em todos saem perdendo, todos ficam prejudicados, pois só é possível defender-se da violência por meio da violência. A recusa do diálogo, a rejeição da palavra, fundar a autoridade na força e não no consentimento são formas de dar razão àquele que não pôde falar, de reconhecer a validade do raciocínio que não pôde ser exposto, pois usamos a força se perdemos a razão. O filho que apanha aprende a bater; da mesma forma o criminoso que apanha da polícia bate na vítima. A regra pela qual quem abusa da força está errado sempre funciona: se a polícia bate em manifestantes ou grevistas, então os manifestantes estão certos. É natural defendermos o lado mais fraco, oferecemos solidariedade porque precisamos de solidariedade quando não somos os mais fortes. É honroso ajudar os mais fracos. Segundo Locke, o pai do liberalismo, que defende a propriedade, a riqueza e o luxo, os ricos devem ajudar os pobres. Segundo Marx, por sua vez, todas as violências que conhecemos são resultado direto ou indireto da luta-de-classes, do conflito entre a classe dominante (a burguesia) e a classe dominada (a pequeno-burguesia, o proletariado e o lumpen-proletariado). Em geral, os filósofos recusam a violência, exceto que se justifique filosoficamente, como é o caso da “guerra justa”, da “revolução” e do combate ao crime.
A explosão da violência civilizada (pois contraditoriamente promovida pelos países mais ricos, melhor educados e mais cultos) no século XX, com duas guerras mundiais, guerras étnicas, genocídios, a bomba atômica e bombas químicas levaram os Estados mais poderosos a  organizarem a Liga das Nações em 1919, após a Primeira Grande Guerra,  e a Organização das Nações Unidas (ONU) em 1945, após a Segunda Grande Guerra, e a declararem uma nova Declaração dos Direitos Humanos.
O site oficial da ONU é (em inglês): http://www.un.org/
O site da ONU no Brasil é: http://www.onu-brasil.org.br/index.php
A importância mundial desta Declaração é não apenas filosófica, mas sustenta decisões soberanas de muitos países, por exemplo ao conceder asilo aos brasileiros que lutaram contra a ditadura militar e ao apoiar a condenação de militares que aterrorizaram seus inimigos políticos na ditadura, como o ex-presidente chileno general Augusto Pinochet.
Há um site específico da ONU apenas para os direitos humanos (em inglês) onde se informam os 379 idiomas nos quais a Declaração já foi traduzida:
E a tradução para nossa língua pátria:
Ou no site do Ministério da Justiça do Brasil: http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm

Podemos afirmar que a defesa dos direitos humanos é um dos principais objetivos da ONU, pois a ONU não tem (nem pode ter) poder de polícia sobre os países membros. É um órgão onde ocorrem discussões políticas e diplomáticas, muitas convenções e Declarações de Direitos são debatidos e propostos, mas os interesses de cada Estado são soberanos. Somente quando há um grande consenso entre os países membros é que criminosos de guerra, como por exemplo alguns dos carrascos nazistas dos campos de concentração (holocausto judeu de 1939-1943) e dos genocidas da Iugoslávia (1992-1995), puderam ser julgados e iniciaram o cumprimento da pena. Outros massacres, contudo, como o de nossos irmãos lusofones do Timor Leste entre 1975 e 1999, ou de nossos irmãos latino-americanos da Praça Tlatelolco, Cidade do México em 2 de dezembro de 1968, permanecem impunes.
Sobre a Segunda Guerra Mundial, há dois documentários bastante fortes que nos mostram a experiência limite de indignidade que precisa ser reiteradamente refletida pela filosofia, um grito humano de “nunca mais”:
1- “Noite e neblina”. Direção: Alain Resnais. França, 1955.
2- Documentários dos campos de concentração. Produção: Alfred Hitchcock. Inglaterra, 1945. Este pode ser visto em: http://www.holocaust-history.org/multimedia/liberation/
Outro aspecto importante da ONU para a filosofia é a cultura, para a qual foi criada a Unesco (sigla que significa Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).
O site da Unesco é (em inglês): http://www.unesco.org/new/en/unesco/
O site da Unesco no Brasil é: http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/
É preciso observar que os direitos humanos são uma política de Estado prevista na Constituição-cidadã de 1988:  
Artigo primeiro: A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
Artigo quarto: A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: I - independência nacional; II - prevalência dos direitos humanos; III - autodeterminação dos povos; IV – não-intervenção; V - igualdade entre os Estados; VI - defesa da paz; VII - solução pacífica dos conflitos; VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo; IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; X - concessão de asilo político.
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações.
Ressaltamos o liberalismo político (livre-iniciativa e pluralismo), a rejeição da violência e a defesa da dignidade.
O Brasil tem ainda uma Secretaria Nacional de Direitos Humanos criada em 1997: http://www.direitoshumanos.gov.br/sobre
http://www.sedh.gov.br/
Estamos já em seu terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos para o quinquênio 2009-2013.
http://portal.mj.gov.br/sedh/pndh3/index.html



Para nós, professores de Filosofia no nível médio, é importante conhecer também o Observatório Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente:
Em nível estadual há a Secretaria da Justiça e da Cidadania:
E há ainda um site totalmente dedicado aos Direitos Humanos com muitas informações: http://www.dhnet.org.br/
Neste site há a versão eletrônica do importante livro “Brasil Nunca Mais”: http://www.dhnet.org.br/memoria/nuncamais/index.htm
E a campanha de “Direito à memória e à verdade”: http://www.dhnet.org.br/dados/campanhas/memoria/index.html
          Os novos artigos da Declaração dos Direitos Humanos de 1948 retomam muitos das Declarações francesas de 1789-1791-1793, mas retira a propriedade como direito natural, recusa decididamente a escravidão e a tortura e retira a importância anteriormente dada à legalidade. De fato, muitos crimes de Estado foram feitos em nome das leis, embora contra a humanidade.
         A violência escandalizou não apenas os filósofos e intelectuais, mas sobretudo as pessoas de bem, como o ódio pode obnubilar a visão de todo um povo, será que tanto avanço técnico não pode contribuir para a justiça? Um dos ensaios de filosofia mais importantes do século XX é Dialética do esclarecimento, de Theodor Adorno e Max Horkheimer, publicado m 1946, onde a hipótese de que houve uma mistificação da filosofia e da educação e por isso o conhecimento se tornou meramente instrumental, perdeu seu papel libertador. Na mesma tradição, Jürgen Habermas se preocupa com o problema do direito, com a limitação do poder político e do poder financeiro, mencionamos especialmente Direito e democracia de 1991. 

4.2. Breve introdução histórica
A Revolução Francesa ensinou aos povos uma maneira decisiva de mudar o poder político e derrubar o governo vigente, para o bem ou para o mal: a revolução. De fato, a sombra da revolução popular passou desde então a apavorar as elites e a orientar todas as suas ações, já que nem mesmo a religião oferecia – como antes – freio aos anseios do povo. Para conter a violência da revolução, não foi difícil escolher a violência da contra-revolução e da guerra, a todo custo, para contentar e delimitar os movimentos sociais. Grotius, que no século XVII propusera o direito natural para restringir a violência das guerras religiosas, para justificar a escravidão e a colonização e para defender o progresso e a paz no comércio internacional, não podia imaginar o grau de violência que o progresso técnico e o conflito de interesses comerciais causariam três séculos depois. Os direitos humanos serviram antes para que os homens reconhecessem os excessos da violência do que propriamente para reduzir a violência e estabelecer canais aceitáveis de diálogo político.
A França em particular e a Europa em geral atravessaram os séculos XIX e XX em meio a revoluções e guerras. Em Paris, houve levantes populares em 1830, de 1848 e 1871, e depois a Primeira e Segunda Guerra Mundial. Após a Segunda Grande Guerra, de 1939-1943, a guerra-fria na Europa, que por sua vez foi bastante quente nos países periféricos (por exemplo, a guerra do Vietnam, as ditaduras militares na América do Sul). Com o
fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas em 1989, o foco de tensões circunda a produção petrolífera no Oriente Médio e a expansão do domínio da tecnologia nuclear de uso militar. Em suma, ao mesmo tempo que o progresso técnico e industrial melhorou a vida cotidiana e a condição de trabalho das pessoas, os métodos de dominação, opressão e controle também se aperfeiçoaram. Numa palavra, violência.
Um quadro famoso que exprime a violência social na primeira metade do século XX na Europa é “Guernica”, de Picasso, quadro que veio ao Brasil na Segunda Bienal de Arte de São Paulo de 1953. Este quadro

retrata o massacre da resistência republicana no povoado de Guernica em 1937, durante a Guerra Civil Espanhola (1933-1937), pelo general monarquista Francisco Franco com aviões alemães e indiferença soviética (devido ao pacto de não-agressão Hitler-Stalin de 1933), para desespero dos socialistas e anarquistas espanhóis e da força internacional que lá estava em luta pelo socialismo e pela justiça social.
           Veremos a seguir dois aspectos da violência: contra o povo, no caso do totalitarismo, segundo Hannah Arendt; e contra a pessoa, na sociedade disciplinar, segundo Michel Foucault.

4.3. Hannah Arendt
O termo “totalitarismo” era usado pelos fascistas de forma elogiosa. Coube a Hannah Arendt (1906-1975), judia alemã radicada nos EUA, descreveu o nazi-fascismo e o stalinismo caracterizando-os como totalitários em Origens do totalitarismo, de 1951. Trata-se de uma forma de domínio que se apropria ao mesmo tempo do individualismo moderno e da alienação das tiranias antigas. O Estado totalitário impede o homem de ter relações privadas livres e fora de controle público, priva-o assim de seu próprio “eu”, e ainda destrói os meios de organização política alternativa ao poder estabelecido, já que autoriza apenas um único partido político. Há assim uma elite dirigente vinculada ao partido que controla o Estado e o acesso ao partido e que proíbe qualquer conduta ou expressão desviante, recorre à violência para controlar os “corpos e as mentes”. Constitui um mundo fictício internamente coerente sustentado pelo terror psicológico e perseguição política. Ora, o interessante é que Hannah Arendt qualifica de totalitário tanto a direita quanto a esquerda, tanto o nazi-fascismo (que exterminou milhões de pessoas em campos de concentração) quanto o comunismo stalinista (que promovera expurgos e assassinatos). Angariou assim adversários de todos os lados. Alguns anos depois, após a morte de Stalin, seu sucessor, Nikita Kruchev, denuncia seus crimes e a filosofia política da pensadora alemã ganha grande importância teórica. O que nos chama atenção é a perfeita integração de seu pensamento com a doutrina dos direitos humanos da ONU.
Hannah Arendt escreve um livro intitulado “Sobre a violência” em 1969, onde apresenta a mais completa reflexão sobre o papel da violência na política ou no controle das pessoas. Trata-se especialmente de uma reflexão franca e aberta sobre os movimentos estudantis de 1968 (“a rebelião estudantil é global”) e os ideais revolucionários que defendiam a violência como uma forma de superar as injustiças sociais do capitalismo no quadro da guerra-fria. Ela procura mostrar que a violência e o poder se excluem mutuamente, pois o poder reune por meio do consentimento e a violência desagrega devido ao ressentimento: “A forma extrema do poder é o todos contra um, e a forma extrema da violência é o um contra todos”. Diz que a violência é instrumental e que para os poderosos é uma tentação recorrer à violência para continuar no poder, contudo o resultado é a impotência. Contra Hegel e Marx, diz que “a violência pode destruir o poder, mas é incapaz de criá-lo”. Não considera que o mal possa ser a manifestação temporária de um bem oculto, essa é uma das características da negação dialética hegeliana, da qual Hannah Arendt discorda.
Uma das implicações de seu pensamento é a política da não-violência de Mahatma Gandhi. Ela mostra bem que, conforme o contexto político, a desobediência civil pode ser tratada como uma doença a ser extirpada, ou seja, com enorme violência, com a brutalidade e o massacre; ou simplesmente pode alcançar seus objetivos. Depende da disposição de quem ocupa o poder e de como este poder se organiza. Estas análises nos permitem reconhecer, para nós brasileiros, um aspecto precário de nossa elite nos anos 60 e 70, que optou pelo terror para calar as críticas. Não ousou repetir a mesma solução por ocasião dos “cara-pintadas” que derrubaram o presidente Collor, fato que introduziu a política brasileira num ciclo virtuoso, ou seja, qualitativamente superior. Segundo a filósofa alemã, “exigir o impossível a fim de obter o possível nem sempre é contraproducente”. De fato, a ameaçada revolução (e da violência) pode angariar algumas boas reformas. Notemos assim que uma política de Estado que respeite os direitos humanos introduz uma nova forma de lidar com os conflitos políticos ao longo da história. Ora, se nos é permitido ainda uma digressão brasileira, observamos ainda importantes focos de violência em nossa sociedade, é assim preciso restabelecer o poder onde ele está ausente. Qual poder? Aquele que prescinde de violência.



4.4. Michel Foucault
O maior filósofo do século XX é um anti-filósofo. Esta provocação é uma forma de mostrar que Michel Foucault (1926-1984) virou a filosofia e as ciências humanas do avesso. Mostrou que a história não podia pressupor a continuidade que lhe dava sentido, que os conceitos clássicos de “soberania”, “instituição”, “governo”,
“liberdade” para pensar o poder deixam escapar o principal que é a interiorização das ordens, que a psiquiatria cria as doenças que diz curar e que vale o mesmo para toda a medicina; que a justiça não cuida do justo mas disciplina os corpos, que a classe é uma questão de raça, que o governo administra o interior da vida e não a liberdade – enfim, todo o saber não é mais do que a criação de um discurso que internaliza uma forma de vida. Tudo funciona como se aqueles direitos humanos que pareciam libertar o homem da opressão, na verdade disciplinam e submetem a vida e os corpos a certas práticas. O direito que liberta na verdade controla. Ademais, a verdade nada mais é que uma forma de poder sobre os corpos, uma legislação sobre a intimidade. Muito bem, nossas ciências           humanas nos trouxeram até aqui, mas o que efetivamente somos? Foucault mostra que as respostas disponíveis são todas falseadoras.
Em A história da loucura, Foucault mostra como a loucura foi aos poucos qualificada como doença, inicialmente associada à lepra e ao isolamento, depois ao internamento em instituições psiquiátricas. Este procedimento é emblemático para constituição do discurso das ciências humanas. Trata-se de um discurso de poder constituído a partir dos micropoderes, a partir da realidade concreta nas relações pessoais. O modelo da soberania cria uma realidade abstrata transcendente distante da motivação real das práticas pessoais, da concretude que disciplina os corpos. As formas jurídicas se constituem para criar estes micropoderes, a vocação transcendente articula a racionalidade da disciplina, mas o real é a prática concreta. O tema principal para Foucault é o sujeito, o indivíduo, o poder da classe, da instituição, do soberano só contam em sua concretude disciplinar, para a biopolítica, política da vida e dos corpos. A violência assim é vista como a consequência necessária e a ameaça contínua da micropolítica, apenas a continuação da disciplina, eventualmente até mesmo sua condição, como se vê em Vigiar e punir.
Pretendemos aqui apresentar brevemente duas perspectivas de reflexão filosófica sobre o poder a partir da violência e que tem impacto sobre a compreensão dos direitos humanos. Apenas um mote para entrarmos na filosofia levando em consideração nossa vida contemporânea.

  Bibliografia 
              ARENDT, Hannah. Sobre a violência. Rio de Janeiro, Civilização brasileira, 2010.
              FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. São Paulo, Loyola, 1996.
              ----------. Em defesa da sociedade.  São Paulo, Martins-Fontes, 2000.
              ----------. Microfísica do poder. Rio de Janeiro, Graal, 1996.
              RIBEIRO, Renato Janine. Recordar Foucault. São Paulo, Brasiliense, 1985.
              SAFATLE, Vladimir & TELES, Edson. O que resta da ditadura. São Paulo, Boitempo, 2010.



fonte:
Curso de Especialização: Filosofia
Módulo II  / Disciplina 04- Disciplina: Filosofia Política
Autor: Ricardo Monteagudo

sexta-feira, 18 de março de 2011

11 imagens para 2011!!!!! EXPOSIÇÃO: "ATÉ QUE A ARTE NOS SALVE"

"Até que a Arte nos Salve!" (São Paulo): até o próximo dia 5 de abril, quem passar por pontos específicos da capital paulista poderá deparar com painéis de 2,5 x 3 metros do artista Adriano Carnevale Domingues. As imagens --ampliações de telas de sua autoria-- fazem parte de uma intervenção que, segundo o artista, visam "apresentar, pela arte, condições humanas e filosóficas com o intuito de questionar e desestruturar a acomodação social". 
O re-HUrbManismo tenta re-humanizar as cidades e/ou re-urbanizar as pessoas através de atos/ações em espaços públicos com o intuito de re-valorizar e reverter o fenômeno de dependência destes mesmos espaços em relação aos espaços privados ou particulares.
“Até que a arte nos salve!” é uma intervenção baseada em ampliações fotográficas de pinturas a óleo de minha autoria cujo foco é o processo de analise do ser humano e suas co-relações.

A arte como o processo de analise e entendimento humano e não apenas a produção de imagens decorativas. A pintura como construção literária. A imagem direta sem paisagens para distração.

É uma ação individual e independente, sem patrocínios ou interlocutores.

Evolução (óleo sobre tela 80x120cm) – 2010


O teu dinheiro delimita o território, a porção de agressividade que tenho, eu extravaso em você e te excluo do bando. Não caço, minha caça já está morta e minhas presas atrofiadas. Vivemos em bandos, eretos, lutando por espaço em uma selva artificial. Excluímos, segregamos, reproduzimos, abortamos.... Temos líderes, maldade, bondade e submissão. Temos vergonha da pele. Não sei se somos primitivos ou humanos demais, mas tenho certeza que talvez a única diferença é que nasceu em nós a ilusão.
Apartheid, Catequização, Chacina, Ditadura, Sem teto, Inquisição, Pobreza, Extinção, Refugiados, . . .
 
Qualidade de vida (óleo sobre tela 80x120cm) – 2010

Deposite, pois esta faltando...
Compre, pois disseram que é necessário...
Troque, não importa a idade...
Rejeite, ao teu bel prazer...
Sufoque, Destrua, Arranque, Cimente,...
... ciente.



D'(EU)S
Definição:
A Luba (RDC): República Democrática do Congo - Africa

A Luba Africano como a maioria das pessoas acredita em um Deus que dá aos homens a forma de várias mentes. Esta divindade é expressa por 3 espíritos primário (a palavra, gesto e respiração). Suas esculturas descrevem como um livro, e em segredo, os mitos de origem e história das dinastias royales. Por isso que eles usam símbolos diferentes:
O ponto rodeado por 2 círculos é o símbolo divino.
O cone, espirais caracóis evocar o cabo trançado. Eles simbolizam vida, nascimento, fertilidade.
O ponto e os dois círculos, a torção espiral e expressar o mundo original, a criação do mundo.
A árvore de Ficus é sagrada desde o Antigo Egipto ea Mesopotâmia. Ela está ligada ao sangue menstrual e adivinhação. Ele é usado para esculpir objetos sagrados.
Kaolin simboliza os espíritos dos mortos.
Os triângulos referem-se a complementaridade entre homens e mulheres, o penteado cruciforme representa os 4 pontos cardeais.
O sol é o lado de Deus, de dia positivo.
A lua tem o seu lado negro, os maus espíritos.
As noites de lua cheia de motivos para sacrifício porque o poder dos maus espíritos é maior. O mundo dos mortos está localizado na Via Láctea.
Estas máscaras redondas são exclusivamente atribuídos a Luba. As linhas brancas está associada a características positivas (grau de pureza, bondade, luz, leite ...). A função destas máscaras Luba é benéfica; sua dança deve animar espíritos guardiões. As cores são simbólicos, tais como formulários, eles indicam "sexo" da máscara, mas também a sua magia em potencial. 
 

Natureza-morta (óleo/acrílico sobre tela 80x50cm)

Segundo os dicionários, "Natureza-morta" é um gênero de pintura em que se representa seres inanimados, como frutas, flores, livros, taças de vidro, garrafas, jarras de metal, porcelanas, dentre outros objetos.

Nesta tela o título é natureza morta pois para mim quando os seres humanos são privados da liberdade, seja como castigo ou normas e leis; quando uma sociedade aprisiona os vivos (animais ou homens) é que a natureza morreu, foi assassinada. Humanidade que se priva da liberdade, dos atos espontâneos, e que reprime sua natureza; esta morta !
Humanidade que ensina a matar para depois punir; esta morta!
 
Condicional (óleo sobre tela 80x100cm)

Acepções

■ adjetivo de dois gêneros
1 que contém, implica, é sujeito a ou dependente de uma condição; incerto, condicionado
2 Rubrica: gramática, lingüística. que expressa condição ou suposição; que introduz, contém ou implica uma suposição ou hipótese
3 m.q. condição ('obrigação, encargo' e 'situação')


"Sinto por vezes minhas pernas fracas, penso no cúmulo de mendigar ajuda, mas para quem ? É certo, na minha idade, ter que pedir?
Me lembro quando jovem da minha indignação em dividir meu espaço com mendigos nas ruas; _que pessoas folgadas, vagabundos, dizia eu. _É mais fácil pedir que trabalhar, justificava-me.
Agora, sinto que generalizei demais e sem saber, ensinava aqueles que hoje nem me ajudam ou sequer me vêem." 
 

Liberdade de expressão (óleo sobre tela 90X70cm)

Será que a censura continua, ou foi plantada a seu tempo em nós? Seria a superficialidade da imagem sem conteúdo a marca da futilidade mental semeada com a censura?
Às vezes sinto que falo para ninguém e a espontaneidade da expressão é barrada no limite da aceitação comum, nivelada pelo valor do consumo.
Agora vejo que a liberdade é amarrada e abafada pelo véu da hipocrisia.
Nasceu em nós a pior das censuras, enfim. 
 
 
Fraternidade (oleo/acrilico/carvão sobre tela 90x70cm)

"Não dê apenas esmolas; Dê futuro."
 
 Bala perdida (óleo sobre tela 90X70cm)

Carlos Henrique, 15 anos, estava em um ônibus para passar o final de semana com seu avô viuvo , quando foi atingido...
Clarice, 33 anos, esperava seu primeiro filho após anos de trabalho e planejamento, quando foi atingida a caminho do trabalho...
Eduardo, 52 anos, foi atingido em seu carro devido a proximidade de um assalto no trânsito...
Janaína, 63 anos, foi atingida enquanto dormia em seu apartamento milionário.
Tatiana, 19 anos, acaba de conseguir uma vaga na companhia de ballet do Teatro Municipal, mas...

"Somos todos Sua imagem e semelhança"... e não números de uma estatística.
 
 
Fome (óleo sobre tela - 90x70cm)

Perco a boca diante da fome. Pedir, mendigar, vasculhar o resto em sacos lotados de pouca dignidade. O que é mais inconcebível? A ausência da boca em uma pintura ou a privação do alimento em campo fértil?


Vênus/Afrodite (óleo sobre tela 90x70cm)
Vênus, Deusa da Natureza, Grande Mãe , mito da beleza e do amor, nasce em uma concha de madrepérola gerada pelas espumas. Era considerada a mãe do povo romano...Equivalente a Afrodite grega.
Os relatos impressos da humanidade muitas vezes alteraram mitos ou personificaram deuses às suas imagens, mas se a África é o "berço da humanidade", a representação mais honesta da Grande Mãe, deusa da natureza Vênus/Afrodite, mantendo esta denominação, seria de uma africana, negra, sem a tradução despigmentada greco-romana. A imagem mítica de acordo com a origem humana, primitiva e não de acordo com a força de um império.
"os mitos possuíam uma função extremamente importante nas sociedades primitivas, pois explicavam os aspectos essenciais da realidade, tais como a origem do mundo, o funcionamento da natureza e dos processos naturais, assim como os processos interiores do próprio homem, juntamente com seus valores básicos. Eram responsáveis não só pela educação e conduta desses povos, servindo como guias para uma vida segura, afastando quaisquer sentimentos de negação da existência, provenientes de uma real impotência em relação à supremacia das intempéries, doenças e mortes." (MONIZ, Luiz Claudio. Mito e música em Wagner e Nietzsche. Rio de Janeiro: Madras, 2007, p. 33).

Talvez, se não transformássemos tanto as imagens para que sejam semelhantes a nós, respeitaríamos melhor as diferenças humanas .

Herança (óleo/acrílica sobre tela 50x80cm)
Visão sobre uma sociedade que não enxerga a importância das coisas, dos pensamentos, das artes, dos seres vivos... e consciente ou inconscientemente herdam a cegueira social e intelectual. Fábrica social de seres invisíveis, onde homens, mulheres e crianças são tratados como sacos ou entulhos espalhados nas ruas; anos de empobrecimento comum, e que quanto mais tempo o homem vivência inconscientemente uma situação, acaba por transforma-la em realidade sem que a consciência filtre, atrofiando assim, a sua percepção, germinando uma nova realidade. 
 


 
 

segunda-feira, 7 de março de 2011