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Significados
Cristo e Tiradentes: feriado em linha reta
publicada quarta-feira, 20/04/2011 às 16:43 e atualizada quinta-feira, 21/04/2011 às 13:52
por Izaías Almada
Cristo e Tiradentes. Crucificação e forca. O calendário brasileiro permite esse encontro que, na pior das hipóteses, junta ideais de fé e liberdade. O que eu não sei é se os brasileiros entendem o verdadeiro significado desses dois ideais.
Na verdade, é o feriadão. O feriadão de um milhão de carros para as praias e outro milhão para o interior. Muito bacalhau e pouca fé. Muita arrogância, impunidade e pouca liberdade. Aquela liberdade que interessa, pelo menos. Não aquela que os publicitários, esse mundo à parte, cheio de glamour e mentiras, cunhou como sendo a liberdade de poder usar uma calça jeans. Só mesmo na cabeça de um idiota.
Enquanto o povão que batalha de sol a sol merece o descanso e os supermercados e pedágios se locupletam um pouco mais, o mundo gira e a Lusitana roda.
Cristo e Tiradentes. Tiradentes e Cristo. Dois ícones. Duas imagens de homens magros, de olhar sereno e barbas e cabelos compridos. Como nos anos 60 para quem viveu a guerrilha e o ‘paz e amor’. Dois homens que não foram vis. Para os que vão viajar e os que vão ficar em suas cidades curtindo o feriadão, um pouco da poesia do grande Fernando Pessoa (Álvaro de Campos):
“Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe – todos eles príncipes – na vida…
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos – mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza”.
UM BOM FERIADO A TODOS!
Fátima Oliveira: O bacalhau e o Vaticano
por Fátima Oliveira, em O TEMPO
Médica – Blog Vi o Mundo- L C Azenha
Médica – Blog Vi o Mundo- L C Azenha
20 de abril de 2011 às 10:52
Minhas lembranças da Semana Santa, ou “Dias Grandes”, são um misto de proibições (o jejum) e comidas deliciosas. Na Quaresma, era seguindo à risca o preceito de não comer carne na Quarta-feira de Cinzas e em nenhuma sexta-feira naqueles 40 dias. Já foi pior.
A sentença mercantilista do Vaticano era não comer carne todos os dias da Quaresma. Era uma semana inteirinha dedicada a guardar contritamente a dor sofrida por Jesus Cristo, com rezação, mortificação e silêncio, pois nem o rádio podia ser ligado. Criança que fizesse alguma danação poderia contar como certa a reprimenda no rompimento da Aleluia.
Dando um tempo ao mundo das lembranças, tentei descobrir por que o bacalhau (em latim: baccalarius) reina na culinária dos “Dias Grandes”. Antes, o que é bacalhau? É o nome de peixes do gênero Gadus, da família Gadidae. Chamam de bacalhau cinco peixes após a salga e a secagem (cura).
Quatro deles são das águas gélidas do oceano Ártico (Noruega, Canadá, Rússia, Islândia e Finlândia): o cod Gadus morhua (o verdadeiro bacalhau), conhecido como “cod” ou do Porto, o Saithe, o Zarbo e o Ling. O quinto é o cod Gadus macrocephalus, do Pacífico, ou do Alasca.
Todos são comercializados como bacalhau nas categorias: “Imperial, a melhor classificação – bem cortado, bem escovado e bem curado (o melhor de todos, só para lembrar, é o Porto Imperial); Universal – com pequenos defeitos que não comprometem a qualidade; e Popular – com manchas e falhas causadas pelo arpão, na hora da pesca”.
Para Lecticia Cavalcanti, “são semelhantes, no aspecto. Apesar disso, o ‘verdadeiro’ apresenta características próprias: na forma (maior, mais largo e mais pesado), na aparência (limpa, sem manchas), na cor (‘palha’, o macrocephalus é branco), na pele (solta com muito mais facilidade) e no rabo (quase reto ou ligeiramente curvado para dentro, tendo o macrocephalus forma de babado). Mas são bem diferentes na panela. Sobretudo depois de cozidos. O morhua desfaz-se em lascas claras e tenras, enquanto o segundo é fibroso – e, por isso, mais barato. Segundo a legislação, só esses dois podem ser considerados bacalhau”.
Desde fim do século XV, começo do XVI, o Vaticano, em reconhecimento ao sofrimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, decretou que os cristãos não poderiam consumir carnes “quentes” durante a Quaresma. Falam que o Vaticano era proprietário da maior frota bacalhoeira – caravelas para a pesca do bacalhau que levavam os “dóris”, barcos a remo, nos quais os pescadores (bacalhoeiros) se lançavam ao mar para a pesca. Visando a maximizar seus lucros, o Vaticano proibiu o consumo de carne durante a Quaresma, quando então as vendas de bacalhau explodiram. Já era um alimento apreciado nas camadas populares europeias, sobretudo portuguesas, por ser nutritivo e barato.
Durante séculos, até a Segunda Guerra Mundial, o bacalhau foi comida de pobre, mesmo no Brasil, cujo consumo massivo se deu após a chegada da corte portuguesa. Não é à toa que comer bacalhau em qualquer biboca do Rio de Janeiro é sempre saborear um manjar dos deuses. É a manha da tradição culinária sedimentada na corte.
Em Portugal, há “mais de 1.200 receitas catalogadas, de todo tipo: cru, cozido, frito, assado no forno ou na brasa, guisado, grelhado, gratinado, estufado, como recheio de empadas e crepes. Sempre com muito azeite, azeitona, louro, noz-moscada, pimenta (verde, branca ou preta). E mais alho, cebola, coentro, couve, hortelã, salsa, pimentão, poejo, tomate”.
MAIS FERIADOS COMERCIAIS BANHADOS DE IDEOLOGIAS E FLORES QUE TEM UMA RAZÃO DE SER DIFERENTE DO DISCURSO...
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