domingo, 21 de agosto de 2011

SOMOS LIVRES? Filosofia em trechos de filmes...

A questão que se coloca na análise da relação entre liberdade e determinismo tem seu principal desdobramento na ética. Isto quer dizer que, sobretudo, o que se mostra como foco da problemática que vamos tratar diz respeito às condições do homem no tocante à ação. Liberdade e determinismo parecem ser pólos opostos, pontas de uma corda esticada sobre a qual o homem precisa andar. Mas será que é assim mesmo? Por enquanto podemos traçar algumas hipóteses, mas de certo mesmo podemos dizer apenas que não há resposta simples à pergunta: “somos ou não somos livres?”
Para respondê-la, talvez sejamos tentados por um sentimento de liberdade, de reconhecimento de que podemos sempre escolher, que nos aparece de súbito, mas é preciso investigar a fundo para que não sejamos pegos de surpresa. As evidências em favor da liberdade são percebidas em atos simples como querer levantar o braço, caminhar, pensar em um sorvete, etc. Aparentemente somos livres para tudo isso, mas, será que nossas ações são mesmo livres? Pensemos na situação de se matar a sede com um grande copo d’água. Pode-se caracterizar este ato como sendo livre? Ou devemos atrelá-lo necessariamente à sede que o ocasionou, em uma relação de causa e efeito que pode ser observada em todas as nossas ações? Eis o drama em que nos colocamos.
Para que fiquem mais claras as conseqüências éticas do nosso problema, lembrando que a ética trata de tudo aquilo que diz respeito à ação do homem, imaginemos as seguintes situações: primeiro que somos todos livres, podemos fazer aquilo que nos der na telha. Não há quaisquer restrições, leis, normas, obediências ou autoridades a quem devemos satisfação. Nesse cenário utópico, conseguiria o homem construir para si uma sociedade boa e justa? Teriam todos os mesmos direitos? Basta observarmos os conflitos diários em uma sociedade regrada para imaginarmos que a liberdade total e absoluta não constituiria uma sociedade justa. Essa capacidade de previsão, isso que nos possibilita imaginar as conseqüências da suposta utopia, já aponta para aquilo que devemos imaginar em seguida. Somos capazes de prever certas conseqüências com um certo índice de certeza, isto quer dizer que de certos fatos decorrem outros, e que dessa relação podemos deduzir um princípio de causalidade, isto é, tomado um conjunto de causas, podemos afirmar seu efeito. Sendo assim, reconsideremos a liberdade a partir de um segundo cenário: imaginemos agora que todos os nossos atos são condicionados por uma série de fatores, que tomados em conjunto nos permitem afirmar com algum grau de certeza quais serão as nossas escolhas. Nessa perspectiva, nada do que fizermos ou pensarmos parecerá livre. As causas de nossas ações, os condicionamentos, podem ser os mais diversos. Podem ser, por exemplo, de ordem genética, o que implica que por mais que eu queira não serei mais alto do que estabelecem meus genes; de ordem ambiental, que se pode ilustrar pelas influências que sofremos do círculo de pessoas com as quais convivemos; de uma ordem divina onisciente, que implica que tudo já está pré-determinado para nós e apenas fazemos o que deveríamos fazer, não nos restando nada a não ser cumprir o destino; ou ainda da ordem das paixões, das inclinações que sentimos, como a sede, o medo, o amor, a coragem, antecedentes causais de atos possíveis de ser previstos, entre outras causas.
Como podemos observar, a questão acerca do determinismo e da liberdade pode ser colocada de várias formas sem que, contudo, possamos chegar a alguma conclusão da qual se possa dizer: “Eis a verdade!”. O que podemos e queremos fazer é trazer para as nossas conversas elementos que nos ajudem a esclarecer duas possibilidades intimamente ligadas à forma como vemos o nosso mundo.


Filmes sugeridos:
Laranja Mecânica | Diretor: Stanley Kubrick | País: Reino Unido | 1971
Sinopse: O anti-herói do filme é Alex DeLarge, umjovem líder de uma gangue de delinqüentes, amantes de leite drogado e música clássica. Tem por diversão bater, estuprar, matar… Enfim, cometer qualquer brutalidade que tenha vontade, não se importando com as leis ou o senso humanitário. Quando finalmente é pego pela polícia, sofre um tratamento duro de reabilitação. Quando Alex volta às ruas, totalmente regenerado, passa a sofrer com aqueles que antes eram as vítimas.
Possibilidades de discussão:
• gratuidade ou não das ações
• escolha
• coerção / condicionamento

Poderosa Afrodite | Diretor: Woody Allen | País: EUA | 1995
Sinopse: Em Nova York, oito anos após adotar um bebê, um pai adotivo resolve procurar a mãe biológica da criança e acaba descobrindo que ela é uma prostituta cafona chamada Linda, que em filmes pornográficos usa o nome Judy Cum. O homem decide então aconselhá-la a abandonar este tipo de vida.
Possibilidades de discussão:
• determinismo genético/biológico
• papel da educação/meio
• preconceito
• fatalismo


Bem Vindos | Diretor: Lukas Moodysson | País: Suécia | 2000
Sinopse: Bem-vindos é a saga de uma comunidade hippie que tenta aliar seus ideais anarquistas à convivência com burgueses e aos próprios conflitos internos. Um desses conflitos é retratado pela neo-burguesa Elizabeth, que apanha do marido e resolve se mudar com seus dois filhos para a casa onde seu irmão Gore vive. É quando ela encontra um mundo politizado, de sexo livre que prega marxismo e liberdade incondicional, embora as crianças sejam proibidas de assistir à TV e o sexo não seja tão livre assim. Aos poucos, a fusão dessas duas realidades altera a vida do grupo e demonstra que, apesar de ser difícil a convivência, todos são bem-vindos.
Possibilidades de discussão:
• convenções
• papel da educação/meio
• preconceito
• viabilidade de formas alternativas de socialização


Obrigado por Fumar | Diretor: Jason Reitman | País: EUA | 2005
Sinopse: Nick Naylor é o porta-voz das empresas de cigarro e ganha a vida defendendo o direito dos fumantes nos Estados Unidos. Desafiado pelos vigilantes da saúde e por um senador, Nick manipula as informações sobre o tabagismo nos programas de TV e se alia a um poderoso de Hollywood para promover o cigarro nos cinemas.
Possibilidades de discussão:
• o uso retórico da liberdade
• influência dos meios de comunicação
• massificação
• subordinação da verdade a interesses econômicos
 como a liberdade pode, e é, evocada em nome de ideologias.
 


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