A                               questão que se coloca na análise da  relação entre                              liberdade e determinismo tem  seu principal                              desdobramento na ética. Isto  quer dizer que,                              sobretudo, o que se mostra  como foco da problemática                              que vamos tratar  diz respeito às condições do homem                              no  tocante à ação. Liberdade e determinismo parecem                               ser pólos opostos, pontas de uma corda esticada                               sobre a qual o homem precisa andar. Mas será que é                               assim mesmo? Por enquanto podemos traçar algumas                               hipóteses, mas de certo mesmo podemos dizer  apenas                              que não há resposta simples à  pergunta: “somos ou                              não somos livres?”
   Para respondê-la, talvez sejamos tentados por um                               sentimento de liberdade, de reconhecimento de que                               podemos sempre escolher, que nos aparece de súbito,                               mas é preciso investigar a fundo para que não                               sejamos pegos de surpresa. As evidências em  favor da                              liberdade são percebidas em atos  simples como querer                              levantar o braço,  caminhar, pensar em um sorvete,                              etc.  Aparentemente somos livres para tudo isso, mas,                               será que nossas ações são mesmo livres? Pensemos na                               situação de se matar a sede com um grande copo                               d’água. Pode-se caracterizar este ato como sendo                               livre? Ou devemos atrelá-lo necessariamente à  sede                              que o ocasionou, em uma relação de  causa e efeito                              que pode ser observada em  todas as nossas ações? Eis                              o drama em que  nos colocamos.
   Para que fiquem mais claras as conseqüências éticas                               do nosso problema, lembrando que a ética trata de                               tudo aquilo que diz respeito à ação do homem,                               imaginemos as seguintes situações: primeiro que                               somos todos livres, podemos fazer aquilo que  nos der                              na telha. Não há quaisquer  restrições, leis, normas,                              obediências ou  autoridades a quem devemos                              satisfação.  Nesse cenário utópico, conseguiria o                              homem  construir para si uma sociedade boa e justa?                               Teriam todos os mesmos direitos? Basta observarmos                               os conflitos diários em uma sociedade regrada para                               imaginarmos que a liberdade total e absoluta não                               constituiria uma sociedade justa. Essa  capacidade de                              previsão, isso que nos  possibilita imaginar as                              conseqüências da  suposta utopia, já aponta para                              aquilo que  devemos imaginar em seguida. Somos                              capazes  de prever certas conseqüências com um certo                               índice de certeza, isto quer dizer que de certos                               fatos decorrem outros, e que dessa relação podemos                               deduzir um princípio de causalidade, isto é, tomado                               um conjunto de causas, podemos afirmar seu  efeito.                              Sendo assim, reconsideremos a  liberdade a partir de                              um segundo cenário:  imaginemos agora que todos os                              nossos atos  são condicionados por uma série de                              fatores,  que tomados em conjunto nos permitem                               afirmar com algum grau de certeza quais serão as                               nossas escolhas. Nessa perspectiva, nada do que                               fizermos ou pensarmos parecerá livre. As causas de                               nossas ações, os condicionamentos, podem ser os mais                               diversos. Podem ser, por exemplo, de ordem  genética,                              o que implica que por mais que eu  queira não serei                              mais alto do que  estabelecem meus genes; de ordem                              ambiental,  que se pode ilustrar pelas influências                              que  sofremos do círculo de pessoas com as quais                               convivemos; de uma ordem divina onisciente, que                               implica que tudo já está pré-determinado para nós e                               apenas fazemos o que deveríamos fazer, não nos                               restando nada a não ser cumprir o destino; ou ainda                               da ordem das paixões, das inclinações que  sentimos,                              como a sede, o medo, o amor, a  coragem, antecedentes                              causais de atos  possíveis de ser previstos, entre                              outras  causas.
  Como podemos observar, a questão acerca do                               determinismo e da liberdade pode ser colocada de                               várias formas sem que, contudo, possamos chegar a                               alguma conclusão da qual se possa dizer: “Eis a                               verdade!”. O que podemos e queremos fazer é trazer                               para as nossas conversas elementos que nos  ajudem a                              esclarecer duas possibilidades  intimamente ligadas à                              forma como vemos o  nosso mundo.
  Filmes sugeridos:
  Laranja Mecânica | Diretor: Stanley Kubrick | País:                              Reino Unido | 1971
  Sinopse:  O anti-herói do filme é Alex DeLarge, umjovem líder                               de uma gangue de delinqüentes, amantes de leite                               drogado e música clássica. Tem por diversão bater,                               estuprar, matar… Enfim, cometer qualquer                               brutalidade que tenha vontade, não se importando  com                              as leis ou o senso humanitário. Quando  finalmente é                              pego pela polícia, sofre um  tratamento duro de                              reabilitação. Quando  Alex volta às ruas, totalmente                              regenerado,  passa a sofrer com aqueles que antes                              eram  as vítimas.
  Possibilidades de discussão:
 • gratuidade ou não das ações
 • escolha
 • coerção / condicionamento
  Poderosa Afrodite | Diretor: Woody Allen | País: EUA                              | 1995
  Sinopse:  Em Nova York, oito anos após adotar um bebê, um pai                               adotivo resolve procurar a mãe biológica da criança                               e acaba descobrindo que ela é uma prostituta cafona                               chamada Linda, que em filmes pornográficos  usa o                              nome Judy Cum. O homem decide então  aconselhá-la a                              abandonar este tipo de vida.
 Possibilidades de discussão:
 • determinismo genético/biológico
 • papel da educação/meio
 • preconceito
 • fatalismo
 Cenas selecionadas em:   http://br.youtube.com/watch?v=8fdGknjoCSY
  Bem Vindos | Diretor: Lukas Moodysson | País: Suécia                              | 2000
  Sinopse:  Bem-vindos é a saga de uma comunidade hippie que                               tenta aliar seus ideais anarquistas à convivência                               com burgueses e aos próprios conflitos internos. Um                               desses conflitos é retratado pela neo-burguesa                               Elizabeth, que apanha do marido e resolve se  mudar                              com seus dois filhos para a casa onde  seu irmão Gore                              vive. É quando ela encontra  um mundo politizado, de                              sexo livre que  prega marxismo e liberdade                              incondicional,  embora as crianças sejam proibidas de                               assistir à TV e o sexo não seja tão livre assim. Aos                               poucos, a fusão dessas duas realidades altera a vida                               do grupo e demonstra que, apesar de ser difícil a                               convivência, todos são bem-vindos.
  Possibilidades                              de discussão:
 • convenções
 • papel da educação/meio
 • preconceito
 • viabilidade de formas alternativas de socialização
  Cenas selecionadas em: http://br.youtube.com/watch?v=BhjpgRmGJFk
  Obrigado por Fumar | Diretor: Jason Reitman | País:                              EUA | 2005
  Sinopse:  Nick Naylor é o porta-voz das empresas de cigarro e                               ganha a vida defendendo o direito dos fumantes nos                               Estados Unidos. Desafiado pelos vigilantes da saúde                               e por um senador, Nick manipula as  informações sobre                              o tabagismo nos programas  de TV e se alia a um                              poderoso de Hollywood  para promover o cigarro nos                              cinemas. 
 Possibilidades de discussão:
 • o uso retórico da liberdade
 • influência dos meios de comunicação
 • massificação
 • subordinação da verdade a interesses econômicos
 como a liberdade pode,                              e é, evocada em nome de ideologias.
 Cenas selecionadas em:     http://br.youtube.com/watch?v=XXznEuWnVMM
 
 
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