publicada sexta-feira, 07/02/2014 às 23:47 e atualizada sexta-feira, 07/02/2014 às 23:34
“A “Veja” é a barbárie. A “Veja” – se pudesse – prenderia o pescoço do povo brasileiro no poste. Mas não vai conseguir. Vai perder – de novo.”
por Rodrigo Vianna
Nas redes sociais, tarde da noite de sexta-feira, jornalistas 
afinados com o tucanato e militantes da esquerda extremada se 
esparramavam em elogios à capa da “Veja”. Eu, que procuro manter 
distância sanitária da revista, aproximei-me da capa. E só consegui 
enxergar um gesto de oportunismo barato.
A “Veja” expõe a imagem – chocante, lamentável, triste – do rapaz 
preso pelo pescoço num poste na zona sul carioca, e aproveita a cena não
 para refletir sobre a tradição oligárquica brasileira, não para pensar 
sobre nossa história de 300 anos de escravidão, ou sobre nossa elite que
 reclama de pobres nos aviões e clama sempre pela resposta fácil do 
liberalismo de araque e da violência de capatazes. Não. “Veja” usa a 
foto terrível em mais uma tentativa para desgastar a imagem do Brasil; e
 também – que surpresa – para culpar o “governo”. Que governo? Ah, não é
 preciso ser muito esperto pra descobrir…
Emoldurando a foto triste, “Veja” berra em letras garrafais: 
“Civilização” e “Barbárie”. E depois acrescenta a legenda malandra, 
velhaca: “A volta dos justiceiros, criminosos impunes, colapso no 
transporte, caos aéreo. Onde está o Brasil equilibrado, rico em 
petróleo, educado e viável que só o governo enxerga”.
Certamente, o Brasil “equilibrado” não está nessa revista. “Veja” 
pratica o jornalismo da barbárie, um jornalismo que escreve “estado” 
assim – com “E” minúsculo – numa espécie de bravata liberal fora de 
época. “Veja” envenena o país todos os dias, com blogueiros  obtusos, 
asquerosos, que falam para um Brasil pretensamente senhorial, como se 
ainda estivéssemos antes da Revolução de 30.
Curioso, também, ver a “Veja” falar em “barbárie” e em “criminosos 
impunes”. Logo essa revista, tão próxima do bicheiro Cachoeira, pautada 
pelo bicheiro, amiga do bicheiro. A tabelinha com Cachoeira é – sim – um
 exemplo perfeito desse Brasil de criminosos impunes.
A “Veja”, que tenta pegar carona na imagem do rapaz preso pelo 
pescoço, pratica um jornalismo justiceiro – que invade quartos de hotel,
 “julga” e “condena” sem provas, inventa fatos, publica grampos sem 
áudio, alardeia contas no exterior e dólares em caixa de whisky. Tudo 
falso, falsificado. Um jornalismo que acredita em boimate e Gilmar 
Mendes.
A revista não tem moral para falar contra a “barbárie”, nem contra os
 “justiceiros”. E não tem, precisamente, por praticar um jornalismo que é
 a própria encarnação da barbárie, da falta de escrúpulos, um jornalismo
 justiceiro.
O Brasil do lulismo tem muitos 
problemas. Isso é evidente. Mas não venha a “Veja” querer apresentar a 
receita de “Civilização” ao Brasil. A receita da “Veja” é a mesma que os
 EUA oferecem à Ucrânia.
Está claro, por essa capa oportunista e velhaca, qual é a pauta dos 
setores que não aceitam o Brasil um pouquinho mais avançado dos últimos 
anos: é jogar tudo no “caos”, na “barbárie”, na insegurança. O Brasil é a
 jóia da coroa na América Latina em 2014. Tão importante quanto a 
Ucrânia no leste europeu, tão estratégico quanto a Síria no Oriente 
Médio.
Não sejamos ingênuos. A velha imprensa brasileira – que se reúne com 
embaixadores dos EUA às escondidas (isso desde 64, mas também em 2010 – 
como nos revelou o Wikileaks) – é parte decisiva no jogo pesado que 
veremos em 2014.
A oposição brasileira não tem programa. A economia não afunda como 
gostariam os urubulinos. Portanto, é preciso produzir a pauta do caos. 
Esse é o caldo de cultura em que podem prosperar candidaturas 
“justiceiras” que a “Veja”, os mervais e outros quetais estão prontos a 
lançar.
Para retomar o Estado brasileiro, eles pouco se lixam se o preço a 
pagar for a ebulição social. Aécio e Eduardo não darão conta dessa pauta
 da “ordem contra a barbárie”. A pauta do caos e do Brasil “inviável” 
(que está na capa da “Veja”) é boa para aventuras autoritárias – 
semelhantes ao janismo de 1960.
Quem pode encarnar esse figurino? Quem? O terreno vai sendo preparado…
 Não creio que o povo brasileiro – equilibrado, sim! E que trabalha 
duro para construir um país “viável”, sim – não creio que a maioria de 
nosso povo embarque na aventura da “ordem contra a barbárie” – proposta 
pela revista. Mas a direita asquerosa e velhaca vai tentar.  
O roteiro está claro. É preciso estar atento. E não cair na esparrela
 de acreditar que a “Veja” – de repente – converteu-se à “Civilização”.
 A “Veja” é a barbárie. No jornalismo, na política, na vida do brasileiro comum.
A “Veja” – se pudesse – prenderia o pescoço do povo brasileiro no poste. Mas não vai conseguir. Vai perder – de novo.
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