sexta-feira, 12 de março de 2010

Fainestein (aquilo que aparece –fenômeno)... Deus?...


                                               W.Kush

O que me atento não é a postulação de um Deus, seja transcendente, imanente ou Idéia. Pois se o há, de qualquer uma das formas, deixe-o ser! Perene onde e como estiver, mas não o atribuas humanidades. Escrever livro, regrar mandamentos, distinguir se há ou não santos, demônios, se há o mal, o “inimigo”... Nada o é de fato, são meras representações escritas de homens. Diria: “Homens que conviveram com Cristo, filho de Deus”, mas são homens que percebem como tal e individualmente. Platão conviveu com Sócrates e em seus diálogos há muito mais palavras platônicas em Sócrates do que socráticas. Se se pressupõe sua existência ontológica ou ôntica, ele é, seja força, natureza, espírito, sobre este só se é possível sentir ou não. E como indivíduos distintos mesmo que assumindo existência, sentindo, sente-se representativamente, ou seja, unicamente, em cada ser – indivíduo. Usam-se, então, símbolos, ritos, mitos engajados em todas as religiões, mesmo que não de forma igual. Não importa segui-los, mas sabendo suas significações em fé e também como meio de fé externalizada, com significados simbólicos, portanto humanos. Não assumi-los como dogmas inquestionáveis “A hóstia é o corpo de Cristo...” esta representa, enquanto fé e significado que a damos. O fato de ler as “Escrituras Sagradas” de nada me assegura; História e fé se mesclam em quantidades bastante desproporcionais (cerca de apenas 10% de fatos históricos, os outros 90% crê-se). Escrita por homens, lida por homens, traduzida por homens, sobre algo que não estaria sob égide das categorias e compreensão humana. Se houver de fato este algo criador, consciente ou não de si, provavelmente preza pela harmonia, digo-a como a própria harmonia da natureza, a formação da vida, os átomos, as células, os quais cada partícula está como que encaixada perfeitamente para que tudo seja, viva, transforme. Uma harmonia quase pitagórica. Mas não há de fato um Deus ou um Ser, seja ser – physis ou ser – metaphysis que o possa pregar sua adoração, idolatração, e mantenha dogmas atribuindo valores que só seriam válidos se reconhecida sua superioridade, isso seria vaidade. Se existe, ou não, deixe-o Ser e/ou Não-Ser!!! Mas devemos crer numa vivência sob o que os filósofos chamariam de “Ética”, mas ainda que postuladamente superior, pelo agir sem o simples fato de aproveitar o fim (finalidade), mas o fazer pela convivência, por respeito à vida, a natureza, sem pretensões utilitaristas para uma tal transcendentalidade (fazer o bem para ganhar o reino do céu). Cristãos guerreiam “em nome de Deus”, discordam em nome da verdade divina, afirmam todos serem irmãos e o dever do amor entre os homens (veja bem, dever e não o querer), mas aqueles que não assumem sua verdade, de seu grupo religioso, irão para o inferno, não aceitando tal verdade “revelada”. Haveria várias revelações? Várias formas de apropriações ou representações da revelação? Ou ainda, o único grupo que diz a verdade é o qual “faço parte”, as demais por não ser a minha, são falsas? Existiria esse Bem e Mal? Esse maniqueísmo aparece com o cristianismo, não era visto nos primórdios mitológicos por mais místicos que fossem. Um ser é mau o tempo todo ou bom o tempo todo. Se for mau, é para quem? Para outrem não poderia ser seu oposto? Ou melhor, há de ser necessariamente ou um ou seu oposto? Olha! Não sei nada do que há, mas em nome do desespero humano a uma explicação e, atualmente a uma busca de valores, e como uma válvula de escape de uma sociedade tão caótica, assim como o princípio hesiódico “No princípio era o Caos...”, sem sentido e cheio de “derrotas” individuais, aumenta-se as vertentes (religiões) que serviram à História em épocas diferentes (Católicos, Protestantes... Idade Média, Reforma...) e hoje, em meio ao processo do esvaziamento do homem, se multiplicam, multiplicando o esvaziamento do homem, este que se propõe a tantos dogmas erguer, servir e alienar-se como fuga do resto que também não preenche tal vazio e anseio humano. E seus argumentos continuam sendo: “Já lestes a Bíblia? Esta é a palavra de Deus!” A palavra é humana, a ordem e funcionamento das coisas podem ser de força natural motora, mas o que se quer é mantê-la e não colocar o dizer nesta. A preocupação não é com a existência ou não de um ser tangente, mas o que fazer do “princípio” caótico, qual voltamos, e nos encontramos hoje. O que é possível absorver de energia chamada positiva, seja cósmica, ontológica... que nos aproxime de uma evolução e de uma Consciência Humana, ou melhor, uma Consciência da Vida, do viver. Pecado? Pecado é não viver!É não assumir e responsabilizar-se pelos rumos de sua própria vida. È deixar a vida escapar pelos dedos e não senti-la pulsar em seu peito, mas vê-la como expectador, sempre somente à espera do que poderá ver e buscar explicar. Para mim é como se me bastasse uma olhada ao céu estrelado, uma brisa, uma respiração profunda, perante tal universo imenso para senti-lo, é o bastante para renovar-me a cada dia. Se puder ver o pôr e o nascer do sol, sentir a vida, a harmonia indizível, ver a noite negra e misteriosa... não estão à luz (fainestein) , não são fenômenos, absorvíveis à nós, pequenos seres “racionais”, portanto, não se escreve ou preocupa-se sobre isso, deixe-o, sentindo ou não, não promova nomes que não lhe são. Afinal, nem nós somos ou não, mas somos e não, estamos sendo, e neste sendo ainda perdemos todas nossas energias preocupando-nos no que somos, e então deixamos de ser até o sendo! Se Deus existe, porque a fome, a desgraça, a morte de tantos inocentes? Nas reportagens vê-se guerra civil, guerra religiosa, guerra santa.... Livre arbítrio? Como deixas o livre-arbítrio de um ser superior ao de outro, que já não pode escolher sua condição precária ou um estar na catástrofe, (nas favelas, por exemplo) e a cada dia passa pela morte sem escolher e sem ser salvo do homem e do próprio Deus que teria a salvação! Pois a cada bala perdida reza, em nome do desespero, em nome de uma sociedade perdida, em nome de um nome. Realmente não sei avaliar o que é mais difícil: não crer em um Deus salvador, assumindo sua própria vida, não tendo a quem recorrer em sanar suas dores, angústias, anseios e respostas.Ou crer no “Absurdo”, no que não se pode explicar ou entender suas “razões”, mas onde me lançar e confortar-me no momento de desespero.
Juliana Janaina.

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