sábado, 8 de março de 2014

DIA INTERNACIONAL DA MULHER

8 de Março: as mulheres revolucionárias
quinta-feira, 6 de março de 2014

Por Silvio Costa


Neste momento em que as mulheres, mesmo que ainda de forma insuficiente, passam a desempenhar importantes cargos em diversos níveis – como professoras, cientistas, parlamentares, ministras, etc. – e avançar rumo a ocupação de significativo espaço público, é oportuno destacar a participação das mulheres revolucionárias, denominadas pejorativamente pelas forças reacionárias e aristocrático-burguesas, de les pétroleuses, ou seja, as incendiárias.


A presença e a participação feminina nas lutas políticas e revolucionárias na França e outros países é uma constante, inclusive, o símbolo da República francesa é representado por uma mulher.


Em que pese a destacada participação das mulheres nos principais acontecimentos de nossa história, principalmente a partir da denominada história moderna, até algumas décadas atrás o envolvimento feminino nas lutas políticas revolucionárias não era estudado.

As mulheres estiveram presentes, mas relegadas e marginalizadas. Esta realidade que está sendo mudada nas últimas décadas pelo esforço destacado das feministas, que ousam investigar e comprovam que as mulheres, cerca de 50% – possivelmente com pequenas diferenças em um ou outro período – da população em toda a história da humanidade, estiveram participando dos fatos históricos, onde o destaque fica com as mulheres trabalhadoras, que desafiando os preconceitos e os limites culturais – inclusive contra homens revolucionários –, conquistaram seus direitos, não somente como parte integrante da parcela social majoritária, explorada e oprimida, mas também de seus direitos específicos enquanto mulheres.

Em todas as revoluções burguesas e proletárias dos séculos XVIII, XIX e XX, “as mulheres com estudos utilizaram as oportunidades que se lhes ofereceram de defender reivindicações sociais, econômicas e políticas radicais, sobretudo aquelas destinadas a transformar o lugar que ocupam as mulheres na família e na economia, em concreto mediante a exigência de direitos e igualdade legais. Sem dúvida, as mulheres da classe baixa também participaram, sobretudo quando os problemas econômicos ameaçavam seu nível de vida e o de suas famílias. Com frequência estas mulheres conectaram estas questões com as lutas pelo poder e as mudanças políticas radicais que tinham lugar e fizeram pleno uso da oportunidade de pressionar a favor de reformas legais e constitucionais. (...) Sem dúvida, em linhas gerais, os homens revolucionários não parece que hajam tido muito em conta os direitos da mulher(...) muitos homens temiam ao que parece, que as mulheres participassem em atividades políticas. Como consequência, os políticos e historiadores homens ignoraram as mulheres revolucionárias ou as pintaram como amazonas e feras, enquanto que muitos homens radicais têm-se mostrado às vezes pouco dispostos a respaldar os direitos da mulher, por receio de parecer insensatos aos olhos dos demais homens.” (Todd, 2000: 128).

As mulheres na revolução de 1789

Já no ano de 1789 e posteriores, as mulheres participam de forma destacada nas lutas revolucionárias. Como um dos setores mais sensíveis às conseqüências das crises, assume papel de destaque nas mobilizações contra a escassez, a fome, a irregularidade no abastecimento, mas não ficam somente nestas lutas, começam a formular e apresentar suas reivindicações específicas, de forma cada vez mais destacada. Criam associações destinadas a exigir a defesa dos direitos das mulheres, como por exemplo a Sociedade de Mulheres Republicanas Revolucionárias, fundada em fevereiro de 1793, por Claire Lacombe e Pauline Léon , responsável por diversas conquistas revolucionário-populares. 

Algumas feministas conseguem destacar-se na defesa de seus direitos e por colocar suas reivindicações específicas como parte das plataformas políticas mais gerais. Entre estas se destacam Marie-Jeanne Roland, conhecida como “Manon” Roland, discípula de Rousseau e célebre como a filósofa republicana; a holandesa Etta Palm d´Aelders; Olympe de Gouges, que redigiu uma Declaração dos Direitos da Mulher; Tréroigne de Méricourt, que se destacou no grupo Amigos da Constituição em 1790. Deve-se anotar que a participação das mulheres neste momento é identificada, pelo próprio caráter e pelo conteúdo de classe, com a perspectiva burguesa e não avançando em suas reivindicações especificas, o que só surgirá posteriormente.

A primavera dos povos em 1848
Em geral a participação feminina nas revoluções de 1848, quando da primavera dos povos, manifesta um conteúdo um pouco diferente da fase anterior, pois é destacada a presença das trabalhadoras e o surgimento das ideias socialistas e comunistas, que defendem a igualdade para as mulheres e a associam com a emancipação de classe, com a superação da ordem existente.

A Revolução de 1848, na França, principalmente em Paris, a exemplo de outros períodos revolucionários, destaca-se como o momento em que aconteceu o maior número de manifestações proletárias e onde as mulheres participaram com destaque, inclusive de forma independente, na organização de greves e associações gremiais, e reivindicaram que o Plano Nacional de Trabalho não seja excludente às mulheres e restrito a minorar só as consequências do desemprego masculino. Inclusive conseguem que representantes dos grêmios de mulheres façam parte da Comissão Luxemburgo, responsável por analisar e apresentar ao governo provisório, sugestões relativas as condições de vida dos trabalhadores e sobre os salários. 

Entre as organizações específicas fundadas neste período destaca-se as Vésuviennes, que ao lutar pelas reivindicações femininas, organizava grupos de mulheres para treinamentos com conteúdo militar; o Clube para a Emancipação das Mulheres; a União das Mulheres e a Associação Fraternal de Democratas de Ambos os Sexos reivindicavam a igualdade de direitos para as mulheres, o direito ao divórcio e de voto. Registra-se, também, que muitas mulheres assistiram as reuniões da Sociedade Republicana Central dirigida por Blanqui e que, em algumas cidades das províncias, surgiram clubes femininos. (Todd, 2000: 135).

“Os defensores dos direitos da mulher também imprimiram milhares de cartazes, boletins e conclamações, além de fundar revistas e jornais, o mais importante deles foi La Voix des Femmes (A Voz das Mulheres), defendia o divórcio e creches para os filhos das mulheres trabalhadoras. Fora de Paris, seus esforços tendiam a limitar-se a exortar a seus maridos para que passassem à ação(...), sem dúvida, a medida em que o processo de politização característico das revoluções de 1848 se estendia, a participação política das mulheres tendia a aumentar. Algumas lutaram nas barricadas durante a revolução de fevereiro, mas foram muitas mais as que participaram na acentuada luta de rua de junho de 1848. As mulheres de Paris lutaram com tanta decisão como os homens e constituíram uma pequena porcentagem do total de mortos, feridos ou feitos prisioneiros. Ainda que algumas se limitaram a carregar e limpar as armas, outras dirigiram grupos de combate integrados só por homens. A atividade política das mulheres se restringiram depois que se reprimiu o levante dos “dias de junho”, mas muitas haviam aumentado sua consciência social e política.” (Todd, 2000: 135).

Muitas das ativistas femininas, ou melhor, feministas, lutaram não só nos acontecimentos da Revolução de 1848 na França, mas tiveram papel político importante nas lutas feminista posteriores, entre as quais se destacam: Eugénie Niboyet, responsável pela publicação do periódico parisiense Voz das Mulheres, dedicado à defesa dos direitos específicos das mulheres; Jeanne Déroin, fundadora do Clube para a Emancipação das Mulheres; Joséphine Courbois, conhecida como a rainha das barricadas, por sua atuação destacada nas barricadas em Lyón, e despois em 1871, em continuidade a sua militância, lutou nas barricadas da Comuna de Paris; Amadine Lucile Aurore Dudevant, conhecida como George Sand, intelectual e escritora conhecida por suas idéias republicanas e revolucionárias.

Em outros países da Europa, a presença e participação feminina nas lutas revolucionárias de 1848 não alcançaram o nível e a intensidade que teve na França. No Império Austro-Húngaro, em Viena e Praga, as mulheres, mesmo que não haja registros de que apresentaram reivindicações específicas, se reuniam para tratar de assuntos políticos e publicar periódicos. Há registros de que em Praga, em junho de 1848, participaram das lutas, e em Viena, em outubro, auxiliaram na construção de barricadas. Na Hungria se chegou a formar dois regimentos femininos e algumas mulheres, disfarçadas de homens, alistaram-se nas tropas, inclusive há o caso de duas atingirem o posto de capitão antes de serem descobertas. A existência de organizações femininas se restringe praticamente a Praga e Viena, e se dedicavam a apoiar aos refugiados políticos e insurgentes prisioneiros. O Clube das Mulheres Eslavas, organizado em Praga, se dedicava à educação das mulheres em sua língua pátria.

Nos Estados alemães, na cidade têxtil de Elberfeld, as mulheres participaram no 31 de março de 1848 de uma manifestação em apoio aos trabalhadores e pela unificação da Alemanha, quando propuseram que se usasse somente a roupa confeccionada no país. Em outras localidades e eventos a participação se limitou a atividades de apoio. Os homens em seus clubes políticos, inclusive os burgueses radicais, com exceção dos socialistas e comunistas, não permitiam a participação feminina. Em Berlim, o pequeno Congresso dos Trabalhadores, que congregava 31 organizações, apoiava a reivindicação de igualdade para as mulheres, e registra-se também, a existência do Clube Democrático de Mulheres. Entre as mulheres se destacam as feministas Matilde Franziska Anneke e Luise Otto-Peters, responsáveis pela publicação de periódicos.

Nos Estados Italianos antes de 1848, em que pese certa presença das mulheres e de suas idéias nacionalistas e liberais, sua participação se limitou com algumas poucas exceções, a apoiar as atividades revolucionárias dos homens. Em geral, as mulheres italianas, neste período, não foram além do apoio a seus esposos e familiares. O destaque nos Estados Italianos é da brasileira Anita Garibaldi, considerada a verdadeira heroina italiana, por sua participação ao lado de Garibaldi, seu esposo, nas lutas pela unificação da Itália.

As mulheres na Comuna de Paris de 1871
Mas, de todas essas lutas revolucionárias nas que as mulheres tiveram participação, o grande destaque foi na Comuna de Paris, seja por seu conteúdo político ou seja pelo número e intensidade.

Em 1871, os trabalhadores padeciam em precárias condições de vida e as trabalhadoras, em que pese a participação das mulheres nas jornadas revolucionárias em quase um século de luta de classes, padeciam de dupla exploração e discriminação, enquanto mulheres e trabalhadoras, e estavam excluídas de direitos políticos básicos, como por exemplo o direito ao voto. 

Um exemplo das discriminações as quais estavam submetidas as mulheres é explicitado pelo código civil francês, modelo de código civil burguês e seguido em diferentes países, “foi um dos documentos mais reacionários no que diz respeito à questão da mulher. A despojava de todo e qualquer direito, submetendo-a inteiramente ao pai ou ao marido, não reconhecia a união de fato e só reconhecia aos filhos do casamento oficial.” (Martins, 1991: 47-48). Para muitas mulheres, a Comuna se apresenta não só como uma possibilidade de conquistar uma República social, mas de conquistar uma República social com igualdade de direitos para as mulheres.

No dia 18 de março de 1871, considerado o dia do deflagrar da Comuna, foram as mulheres as primeiras a dar o alarme e revelar a intenção das tropas a mando do governo de Thiers, de retirar os canhões das colinas de Montmartre e desarmar Paris. As mulheres se puseram diante das tropas governamentais e impediram com seus corpos que os canhões fossem retirados e incitaram a reação do proletariado e da Guarda Nacional à defesa de Paris.

“Em concreto, as mulheres trabalharam em fábricas de armas e munições, fizeram uniformes e dotaram de pessoal aos hospitais improvisados, além de ajudar a construir barricadas. Muitas delas foram destinadas aos batalhões da Guarda Nacional como cantinières, onde se encarregavam de proporcionar alimentos e bebida aos soldados das barricadas, além dos primeiros auxílios básicos. Na teoria, eram quatro as cantinières destinadas a cada batalhão, mas na prática ocorria ser muito mais. Por outra parte, abundantes dados mostram que muitas mulheres recolheram as armas de homens mortos ou feridos e lutaram com grande determinação e valentia. Também houve um batalhão composto por 120 mulheres da Guarda Nacional que lutou com valentia nas barricadas durante a última semana da Comuna. Obrigadas a retirar-se da barricada da Place Blanche, se transladaram à Place Pigalle e lutaram até que as cercaram. Algumas escaparam ao Boulevard Magenta, onde todas morreram na luta final.” (Todd, 2000: 140).

As mulheres desenvolveram uma série de atividades e mais destacadamente as destinadas à assistência aos feridos e enfermos, à educação em geral e ao abastecimento. Mesmo que não houvesse movimentos e organizações feministas como conhecemos hoje, e não tenha sido elaborado um programa só com reivindicações específicas, as revolucionárias criaram cooperativas de trabalhadores e sindicatos específicos para as mulheres. Participaram ativamente de clubes políticos, reivindicando a igualdade de direitos, como por exemplo o Clube dos Proletários e o Clube dos Livrepensadores. 

Criaram organizações próprias como o Comitê de Mulheres para a Vigilância, o Clube da Revolução Social, o Clube da Revolução e o que conseguiu destacar-se entre eles foi a União de Mulheres para a Defesa de Paris e a Ajuda aos feridos fundada por membros da Internacional, influenciada pelas idéias de Marx. Publicaram-se periódicos destinados às mulheres: Le Journal des Citoyennes de la Comuna (Jornal das Cidadãs da Comuna) e La Sociale (A Sociedade).

As revolucionárias na Comuna adquiriam importância não só como lutadoras das causas sociais, mas como feministas, que pertenciam à classe operária ou aos setores radicais dos setores médios, identificadas com as lutas pela conquista de uma República social com igualdade de direitos. Entre as mulheres neste período, a que ficou mais conhecida foi a ativista socialista Louise Michel, fundadora da União de Mulheres para a Defesa de París e de apoio aos Feridos e membro da I Internacional. 

Destacam-se ainda: Elizabeth Dmitrieff, militante socialista e feminista; André Léo, responsável pela publicação do periódico La Sociale; Beatriz Excoffon, Sophie Poirier y Anna Jaclard, militantes do Comitê de Mulheres para a Vigilância; Marie-Catherine Rigissart, que comandou um batalhão de mulheres; Adélaide Valentin, que chegou ao posto de coronel, y Louise Neckebecker, capitão de companhia; Nathalie Lemel, Aline Jacquier, Marcelle Tinayre, Otavine Tardif y Blanche Lefebvre, fundadoras da União de Mulheres, sendo que a última foi executada sumariamente pelas tropas da reação, e Joséphine Courbois, que havia lutado em 1848 nas barricadas de Lyón, onde era conhecida como a rainha das barricadas. Se deve citar ainda a Jeanne Hachette, Victorine Louvert, Marguerite Lachaise, Josephine Marchais, Leontine Suétens y Natalie Lemel.

Depois da derrota militar da Comuna de Paris de 1871, as forças conservadoras e reacionárias, na impossibilidade de eliminar este exemplo heroico que demonstra a possibilidade de destruição da ordem burguesa, disseminam uma grande campanha de calúnias contra o proletariado, as mulheres revolucionárias, os socialistas, os comunistas e em particular contra a I Internacional.

“Algumas fontes fazem referência às incendiárias, as pétroleuses, que atearam fogo aos edifícios públicos durante a Semaine Sanglante final da Comuna. Estas histórias parecem ser fruto do alarmismo antifeminista de inspiração governamental e a maioria dos correspondentes estrangeiros presentes não acreditaram. Não obstante, as tropas governamentais executaram de maneira sumária a centenas de mulheres, e inclusive lhes batendo até a morte, porque eram suspeitas de ser pétroleuses. Contudo, apesar do fato de que mais tarde se acusou a muitas mais mulheres de ser incendiárias, os conselheiros de guerra não encontraram nenhuma culpável desse delito. Sem dúvida, há provas que indicam que, durante os últimos dias, as mulheres aguentaram mais tempo detrás das barricadas que os homens. No total, foram submetidas 1.051 mulheres a conselhos de guerra, realizados entre agosto de 1871 e janeiro de 1873: oito foram sentenciadas a morte; nove a trabalho forçados e 36 a serem deportadas à colônias penitenciárias.” (Todd, 2000: 140-141).

A Comuna de Paris e a destacada participação feminina em atividades consideram até então, como masculinas, reafirma a força revolucionária da mulher, já desenhada a partir da revolução de 1789, e que se transformou em uma onda histórica mundial indestrutível. As mulheres, a partir da Comuna de Paris passam a contribuir com grande parte da força que coloca em movimento a máquina da revolução proletária, indicando que elas não mais deixariam a cena da luta dos explorados e oprimidos por uma nova sociedade de progresso social e de liberdade.

Madrid, inverno de 2001.

Bibliografia
- Costa, Silvio (1998): Comuna de París: o proletariado toma o céu de assalto. São Paulo/Goiânia: Anita Garibaldi/Universidade Católica de Goiás.

- Engels, F. (1984): A origem da família, da propriedade privada e do Estado. São Paulo: Global.

__________ (1977): “Introdução a Guerra civil na França”. En Marx & Engels(1977): Textos. São Paulo: Alfa-Ômega.

- Gramsci, Antônio (1978): Maquiavel, a política e o Estado moderno. 3 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.

- Lênin, V. I. (1987): O Estado e a Revolução: o que ensina o marxismo sobre o Estado e o papel do proletariado na Revolução. São Paulo: Hucitec.

- Lissagaray, Hippolyte Prosper-Olivier (1991): História da Comuna de 1871. São Paulo: Ensaio.

- Martins, Lilian (1991): Heroínas no combate: a mulher da Comuna”. En Principios, nº 21. São Paulo: Anita Garibaldi, mayo-julio.

- Marx, Karl (1975): “O 18 Brumário de Luís Bonaparte”. En Marx. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural. (Col. Os Pensadores).

__________ (1977): “A guerra civil na França”. En Marx, K.; Engels, F. (1977): Textos. 3 v. São Paulo: Alfa-Omega. 

- Marx, K; Engels, F (1978): O Manifesto Comunista. 2. ed. Prefácio e introdução Harold Laski. Rio de Janeiro: Zahar.

- Ruy, José Carlos (1991): “O socialismo está morto. Viva o socialismo!”. En Principios, nº 21. São Paulo: Anita Garibaldi, mayo-julio.

- Saes, Décio (1994): Estado e Democracia: ensaios teóricos. Campinas: IFCH/Unicamp. (Col. Trajetória 1)

- Todd, Allan (2000): Las revoluciones. 1789-1917. Madrid: Alianza.

* Artigo publicado originalmente na revista Presença da Mulher.
Postado por Miro às 12:01


sexta-feira, 7 de março de 2014

INSCREVA-SE NO 4º ENCONTRO NACIONAL DE BLOGUEIROS E ATIVISTAS DIGITAIS



 Saiu no Barão de Itararé:


Nos dias 16, 17 e 18 de maio em São Paulo, são aguardados 500 ativistas digitais de todo o país. A organização do encontro disponibilizará hospedagem para os 200 primeiros inscritos de fora da capital paulista e alimentação para os 500 participantes.

Na sexta-feira, 16 de maio, o Encontro Nacional promoverá um Seminário Internacional que se propõe a dar continuidade aos debates do 1º Encontro Mundial de Blogueiros realizado em outubro de 2011 em Foz do Iguaçu (PR). Sete conferencistas internacionais participarão dos debates sobre mídia, poder e América Latina, seguido de um debate sobre a luta pela democratização da mídia no Brasil.

No sábado, 17 de maio, a proposta é retomar a experiência do primeiro encontro nacional realizado em 2010 por meio das desconferêncas. As atividades iniciam com um debate sobre a juventude e a força das novas mídias e será seguido das desconferências, em que serão formados grupos de debates. Nesses grupos, o debate será iniciado por ativistas convidados e todos os participantes terão vez e voz para relatar suas experiências e participar dos debates. Após as desconferências, os grupos voltam a se reunir para um debate sobre a mídia e as eleições de 2014, seguido de uma festa de confraternização.

No domingo, 18 de maio, os debates serão sobre a Carta de São Paulo e ações do movimento de blogueir@s e ativistas digitais.

As inscrições já estão abertas na página 
blogprog.com.br/inscricoes. As taxas de inscrição são R$ 50 (cinquenta reais) para os participantes em geral e R$ 20 (vinte reais) para estudantes, sendo necessário o envio do comprovante de matrícula na instituição indicada para o emailinscricoes@blogprog.com.br.

Data: 16, 17 e 18 de maio de 2014 
Local: São Paulo/SP

Inscrição: 
blogprog.com.br/inscricoes

Taxa de inscrição: 50 reais para o público em geral e 20 reais para estudantes

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PROGRAMAÇÃO

16 de maio, sexta-feira

09 horas — Abertura

10 horas — Debate: Mídia, poder e contrapoder

Ignácio Ramonet – fundador do jornal Le Monde Diplomatique (França); *
Pascual Serrano – criador do sítio Rebelion (Espanha); *
Andrés Conteris – Integrante do movimento Democracy Now (Estados Unidos); *
Dênis de Moraes – professor da Universidade Federal Fluminense. *
14 horas — A mídia na América Latina

Osvaldo Leon – integrante da Agência Latina Americana de Informação (Alai-Equador) *
Damian Loreti – professor (Argentina);
Iroel Sánchez – blogueiro cubano; *
Emir Sader – sociólogo e cientista político.
17 horas — A luta pela democratização da mídia no Brasil

Luiza Erundina – coordenadora da Frente Parlamentar pela Liberdade de Expressão (Frentecom);
Rosane Bertoti – coordenadora do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC);
Laurindo Lalo Leal Filho – professor da USP e ex-ouvidor da Empresa Brasil de Comunicação (EBC);
Luciana Santos – vice-presidente nacional do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e deputada federal por Pernambuco.


17 de maio, sábado

9 horas — A juventude e a força das novas mídias

Pablo Capilé – Fora do Eixo;
Renato Rovai – revista Fórum;
Luciano Martins Costa – Observatório da Imprensa;
Jeferson Monteiro – Dilma Bolada;
PC Siqueira – MTV
14 horas — Troca de experiências sobre a blogosfera e o ciberativismo;

18 horas — A mídia e as eleições de 2014

Lula
19 horas — Festa de confraternização.

18 de maio, domingo

10 horas — Plano de ação do movimento nacional de blogueir@s;

Definição do local do V Encontro Nacional, em 2016;
Aprovação da Carta de São Paulo;
Eleição da nova comissão nacional organizadora.
Convidados para iniciar os debates das desconferências: 

Marco Weissheimer (RS);
Eliana Tavares (SC);
Esmael Morais (PR);
Tarso Cabral (PR);
Leonardo Sakamoto (SP);
Cynara Menezes (DF);
Miguel do Rosário (RJ);
Fernando Brito (RJ);
Fábio Malini (ES);
Lola Aronovich (CE);
Daniel Pearl (CE);
Altino Machado (AC);
Diógenes “Jimmy” Brandão (PA);
Altino Machado (AC);
Marcos Vinicius (GO);
Jean Wyllys (RJ);
Túlio Viana (MG);
Lucio Flávio Pinto (PA);
Claudio Nunes (SE);
Nelson Triunfo;
Oldack Miranda – Bahia de Fato;
Douglas Belchior – movimento negro, CartaCapital;
Edmilson Costa – PCB;
Valério Arcary – PSTU;
Carta Potiguar (RN);


A história se repete?

Mesmo com diversas indicações durante anos, somente hoje assisti ao vídeo "A Revolução não será televisionada" e cheguei a algumas conclusões:

- Estão tentando repetir a mesma história na Venezuela atualmente;

-Há vários indícios de anúncio de golpe e reacionarismo atualmente no Brasil, e as táticas continuam as mesmas: a mídia é sua principal aliada, manipulando notícias e alienando os telespectadores;

-O povo carece de consciência política bem mais do que celulares e carros;

-A mídia é "escrota" e partidária não só no Brasil, assim como a elite... que acredita no liberalismo e que tem sua riqueza graças a seu trabalho enquanto os pobres "não sabem o valor das coisas", pois são vagabundos;

-A direita nunca se conforma com a derrota e os EUA estarão sempre lá para ajudar. Aliás, onde eles não estão? São como sanguessugas que querem dominar todos os países e seus recursos naturais, pois acabaram com os seus. Sempre com discurso de "bons moços", pela paz e faturam milhões com a indústria Bélica: estão em todas as guerras, financiando, encabeçando, etc (até na Rússia agora, o que já é um pouco de despeito de áureos tempos de Guerra Fria). Luta contra o terrorismo é só com o terror? Afinal, quem são os terroristas?

-Discordando da Marina Silva, não há nada de ruim de ser/ter um governo "chavista", já que este se apresenta como uma real democracia com a conscientização e escolha do povo, contra uma elite conservadora, violenta e reacionária.

-Infelizmente, Lula e o PT fizeram uma aposta arriscada, quando, ao contrário de Chaves, não começaram com a conscientização política do povo e "embate" com a mídia. Deram acesso aos bens de consumo e não competem diretamente com os meios de comunicação, deixando este trabalho para os reles mortais dos blogs sujos. Dessa forma, estes que hoje se beneficiam dos programas sociais e participam do consumo, serão seus opositores amanhã.

-Porém, é de se entender o não embate com a mídia no Brasil, afinal, na Venezuela, Chaves tinha o apoio do exército, já no Brasil, aqueles que torturaram a Dilma e outros companheiros no governo militar, ainda estão em altas patentes esperançosos para retomar o poder com a campanha massiva dos meios de comunicação (como foi há 50 anos atrás). "Ah, no tempo da ditadura era bom, pois não tinha tanta bagunça e violência, a família era respeitada, e blá, blá, blá..." Como conseguem defender esta ideia???

Por enquanto é isso...

Segue o vídeo, sugiro que vejam o quanto antes, para não perder tal tampo histórico brasileiro que o faz ter mais sentido:

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Para encerrar, uma prova dos passos da mídia golpista:

domingo, 2 de março de 2014


Sheherazade convoca “Marcha da Família”


Por Altamiro Borges

Saiu neste sábado (1) na coluna de fofocas de Felipe Patury, da revista Época: “No próximo dia 22, em São Paulo, sai da Praça da República rumo à Catedral da Sé a segunda edição da Marcha da Família com Deus pela Liberdade. A original fez, em 1964, percurso semelhante dias antes de o ex-presidente João Goulart ser derrubado. Há 50 anos, a organização coube a então primeira-dama do estado, Leonor de Barros, e a mulheres de empresários. A atual foi convocada pelas redes sociais, recebeu apoio de lideranças evangélicas e, pelo Facebook, da apresentadora Rachel Sheherazade, do SBT. O grupo diz contar com a simpatia do filósofo Olavo de Carvalho e até de Denise Abreu, a petista que mandou na aviação civil no governo Lula e ficou famosa por sua predileção por charutos”.

De imediato, dei risada! Pensei que era piada carnavalesca. Mas não é. A patética marcha, que relembra a ação dos golpistas em 1964, está marcada para 22 de março e a âncora do SBT, que explora uma concessão pública de tevê, realmente está metida na sua convocação. Em sua página no Facebook, a nova musa de direita conclama seus seguidores: “Gente boa, sempre vou defender a família. Participe da marcha, divulgue, mostre sua defesa em favor dessa instituição criada por Deus”. E Rachel Sheherazade não é ingênua. Ela sabe que a tal marcha nada tem a ver com Deus ou a família, termos usados para enganar os mais ingênuos e tapados. Num dos sítios que convoca a manifestação ficam explícitos os seus objetivos golpistas e fascistóides.

A marcha tem como principal intento exigir “intervenção militar constitucional já”. Entre outras bandeiras, ela prega: “1- destituir a presidente Dilma Rousseff e o vice-presidente Michel Temer; 2- dissolver o Congresso Nacional; 3- prisão de todos os conspiradores por servirem aos interesses estrangeiros através do Foro de São Paulo, uma invasão sigilosa do território nacional executada pelo regime de Cuba através de agentes infiltrados; 4- dissolução de todos os partidos e investigação com punição das organizações integrantes do Foro de São Paulo; 5- Intervenção em todos os governos estaduais e municipais e nos seus respectivos legislativos; 6- combate à corrupção e à subversão; 7- intervenção no STF, cuja presença de ministros simpáticos aos conspiradores é clara e evidente”.

Já um folheto distribuído pelas ruas da capital paulista afirma que “há 50 anos, no dia 19 de março de 1964, nossos pais e avós foram às ruas e conseguiram a redenção do povo brasileiro. Eles tiveram coragem. Agora é a nossa vez”. O panfleto prega “intervenção militar constitucional” e rosna: “Fora o comunismo, o marxismo e as doutrinas vermelhas”; “Não seremos uma nova Cuba nem uma nova Venezuela”. Outro texto critica “a contratação de médicos cubanos e os gastos para a realização de grandes eventos esportivos no Brasil” e conclama: “Todos juntos nas ruas dizendo um não à tirania do PT, em apoio aos irmãos venezuelanos e contra a ditadura esquerdista... Todos em defesa da nossa pátria. Nossa bandeira é verde e amarelo e não foice e martelo”.

A apresentadora do SBT se soma a estas mensagens – um misto de fanatismo direitista e maluquice fascista. Em sua página no Facebook, os fiéis seguidores elogiam sua “coragem” e chegam a lançá-la para disputar cargos eletivos. Amilton Augusto, por exemplo, defende “Joaquim Barbosa (presidente) e Rachel Sheherazade (vice-presidente)”. Elias Machado comenta: “Não sei se ela tem vocação política, mas seria uma ótima opção para presidente”. Já Arthur Roque declara: “Eu apoio a intervenção militar. Somente isto para acabar com esta corja de comunistas. Está na hora do pau! Avante general Heleno, avante Jair Bolsonaro”. Só falta a emissora de Silvio Santos estampar uma convocatória para a "Marcha da Família"!

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Fonte: http://altamiroborges.blogspot.com.br/2014/03/sheherazade-convoca-marcha-da-familia.html

quinta-feira, 6 de março de 2014

Agora o discurso é que o julgamento é político, antes não?

 
A competência dos ministros atuais STF está sendo questionada, mas do julgamento anterior não?
Para quem tiver paciência e curiosidade política, vale a pena ver o vídeo abaixo.
O corpo fala: a segurança e calma é comum aos que possuem coerência em suas ações e argumentos fundamentados; já a agitação, movimento constante das mãos e do corpo, inquietude, não deixar o outro falar (e arbitrariedade) ... deixo para que meus leitores interpretem...
Afinal, como um grande grupo de brasileiros defendem desde o início do processo: NÃO HÁ PROVAS de desvio de verba pública, mas um empréstimo (ainda que “caixa 2”) e NÃO HÁ VALORAÇÃO DO CRIME DE QUADRILHA.
 
Não por acaso foram milhares de doações legais e legítimas para pagamento da dívida do Genoino e Dirceu.
 
Viva os blogs sujos!!! Pois se dependesse dos meios de comunicação de massa (aí incluo os que se acham “menos massa” que leem Folha de São Paulo, Veja e terminam com o Jornal da Globo).
 
 

As semelhanças entre 1964 e 2014 (agora o golpe é da mídia partidária)

As semelhanças entre 1964 e 2014 

 
ter, 04/03/2014 - 10:04 - Atualizado em 04/03/2014 - 13:16
 
 
Santos Vahlis, hoje em dia, é mais conhecido pelos edifícios que deixou no Rio de Janeiro e pelas festas que proporcionou nos anos 50. Foi um dos grandes construtores do bairro de Copacabana.
Venezuelano, mudou-se para o Brasil, trabalhou com a importação de gasolina e tentou se engatar nas concessões de refinarias no governo Dutra. Foi derrotado pela maior influência dos grupos cariocas já estabelecidos.
Nos anos seguintes, foi um dos financiadores da campanha do general Estillac Leal para a presidência do Clube Militar, em torno da bandeira do monopólio estatal do petroleo. Torna-se amigo de Leonel Brizola, defensor de Jango.
Provavelmente graças ao fato de ser bom cliente dos jornais, com seus anúncios imobiliários, tinha uma coluna no Correio da Manhã, cujo ghost writer era o grande Franklin de Oliveira.
 
Tentou adquirir o jornal “A Noite” para fortalecer a imprensa pró-Jango. Foi atropelado pelo pessoal do IBAD (Instituto Brasileiro de Ação Democrática) que, em vez de comprar o jornal, comprou sua opinião por Cr$ 5 milhões. A CPI que investigou a transação teve como integrante o deputado Ruben Paiva.
 
Por sua atuação, Vahlis sofreu ataques de toda ordem. Contra ele, levantaram a história de que teria feito uma naturalização ilegal. Em 1961, em pleno inverno, foi preso e jogado nu em uma cela de cadeia, a ponto do detetive que o prendeu temer por sua vida.
 
Como era possível a perseguição implacável dos IPMs (Inquéritos Policial Militares), de delegados e dos Ministérios Públicos estaduais, contra aliados do próprio governo?
 
Esse mesmo fenômeno observou-se nos últimos anos, com os abusos cometidos no julgamento da AP 470, envolvendo não um ou dois Ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), mas cinco, seis deles, endossando arbitrariedades que escandalizaram juristas conservadores.
 
Características da democracia
 
Para tentar entender o fenômeno, andei trabalhando em um estudo que pretendo apresentar no evento “50 anos da ditadura”, que ocorrerá a partir da semana que vem no Recife.
 
Aqui, um pequeno quadro esquemático que explica porque 2014 é tão semelhante a 1964 – embora torçamos por um desfecho diferente.
 
1.     A democracia é um processo permanente de inclusões sucessivas. Também é o regime de maior instabilidade (e medo) das pessoas. Nos regimes autoritários, na monarquia, nos sistemas de castas, não há ascensão vertical das pessoas – nem sua queda. Na democracia de mercado há a instabilidade permanente, mesmo para os bem situados. Teme-se o dia seguinte, a perda do emprego, das posses, do status.
 
2.     Além disso, há repartição entre os poderes que abre espaço para a montagem de alianças e acordos econômicos, nos quais os grandes grupos econômicos se aliam aos grupos de mídia, através deles infuenciam os diversos poderes de Estado.
 
3.     Cada época de inclusão gera novas classes de incluídos que cumprem seu papel de entrar no mercado de trabalho, ganhar capacidade de consumo e, no momento seguinte, cidadania e capacidade de organização. Gera resistências tanto na classe média (medo da perda de status) quanto nos de cima (perda de influência).
 
Aí, cria-se uma divisão no mercado de opinião que será explorado a seguir.
 
O mercado de opinião
Simplificadamente, dividi o mercado de opinião em dois grupos.
O primeiro é o mercado liderado pelos Grupos de Mídia. Por definição, é um mercado que influencia preponderantemente os setores já estabelecidos que já passaram pela fase da inclusão, do emprego, da carreira, integrando-se no mercado de opinião aos estabelecidos da fase anterior.
Por suas características, os grupos mais resistentes ao novo são os estamentos militar,  jurídico, alta hierarquia pública e a alta e média classes médias – especialmente os estamentos que trabalham em grandes companhias hierarquizadas. E também a classe média profissional liberal, que depende de redes de relacionamentos.
A razão é simples. Vivem em estruturas burocráticas, hierarquizadas, nas quais cumprem uma carreira, sujeitando-se a promoções ao longo de sua vida útil. Por isso mesmo, a renovação se dá de forma muito lenta, proporcional à lentidão com que mudam os lugares nessas corporações. São os mais apegados ao status quo.
Por todas essas características – da insegurança, da carreira construída passo a passo – esses grupos são extremamente influenciados por movimentos de manada. Por segurança, querem pensar do mesmo modo que a maioria, ou que o status quo do seu grupo (ou de suas chefias).
Esse grupo pode ser denominado conceitualmente de opinião pública midiática. Ele detém o poder, a capacidade de influenciar leis, julgamentos, posições.
Mas não detém voto. Mesmo porque, quem têm votos é a maioria.
O segundo grupo é o dos novos incluídos econômicos e dos incluídos políticos mas que não tem posição de hegemonia. Entram aí sindicatos, organizações sociais, o povão pré-organização etc, enfim, a maioria da população – especialmente em países com tão grandes diferenças de renda. E entra o Congresso Nacional.
Os canais de informação desse público são os sindicatos, organizações sociais e os partidos políticos.
É um público que detém os votos, mas não detém poder.
 
O conflito entre poder e voto
Em cada período de inclusão, o partido que entende as necessidades dos incluídos ganha as eleições. Foi assim nos EUA com o Partido Republicano no século 19, com o Partido Democrata no século 20.
Processos de inclusão diminuem as diferenças de renda, ampliam a classe média e, quando o país se civiliza, garantem a estabilidade política – porque a maioria se torna classe média.
Mas em países culturalmente atrasados – como o Brasil – qualquer gesto em direção à inclusão sofre enormes resistências dos setores tradicionais. 
Não se trata de viés político, ideológico (no sentido mais amplo), mas de atraso mesmo, um atraso entranhado, anti-civilizatório,  que atinge não apenas os hommers simpsons, mas acadêmicos conservadores, magistrados, empresários sem visão. E, especialmente, os grupos de mídia. Os de baixo temem perder status; os de cima, temem perder poder.
O partido que entende os novos movimentos colhe leitor de baciada.
O único fator capaz de derrubá-lo são as crises econômicas (o fenômeno do populismo é o de procurar satisfazer de qualquer maneira as massas descuidando-se da economia) ou o golpe.
 
A reação através do golpe
Sem perspectivas eleitorais, os segmentos incluídos na chamada opinião pública midiática recorrem ao golpismo puro e simples.
Consiste em fomentar diuturnamente o discurso do ódio e levar a vendetta para o campo jurídico-policial. É o que levou à prisão de Santos Vahlis e aos abusos da AP 470.
O movimento foi bem sucedido em 1964 e consistia no seguinte:
1.     Para mobilizar a classe média, a mídia levanta fantasmas capazes de despertar medos ancestrais: o fantasma do comunismo, que destroi famílias e propriedades, do golpe que estaria sendo preparado pelo governo, da corrupção que se alastra etc.
 
2.     A campanha midiática cria o clima de ódio que se torna cada vez mais vociferante quanto menores são as chances de mudar o governo pela via eleitoral.
 
3.     Com a influência sobre o Judiciário e o Ministério Público, além de denúncias concretas, qualquer fato vira denúncia grave e, na ponta, haverá um inquérito para criminaliza-lo.
 
4.     Aí se entra no ponto central: as agressões, os atentados ao direito, as manipulações provocam reações entre aliados do governo. Qualquer reação, por mais insignificante, serve para alimentar a versão de que o governo planeja um golpe. O ponto central do golpe consiste em fomentar reações que materializem as suspeitas de que é o governo que planeja o golpe.
 
É nesse ponto que o golpismo e o radicalismo de esquerda se dão as mãos.
 
Confiram esse vídeo aqui do Arnaldo Jabor, sobre uma proposta de um deputado obscuro do PT. O próprio Jabor considera-o obscuro. Mas repare nas conclusões que tira. Foi buscá-las em uma nave do tempo diretamente de 1964
 
O grande problema de Jango foram os aliados iludidos pela revolução cubana e pela própria campanha da mídia - que superestimava, intencionalmente, os poderes das ligas camponesas e quetais. 
O histórico trabalho de Wanderley Guilherme dos Santos, em 1962, expos de forma magistral e trágica  como se dava essa manipulação das reações. 
Esse mesmo clima em relação às ligas camponesas, a mídia tentou recriar com as fantasias sobre a influências das Farcs no Brasil, sobre os dólares cubanos transportados em garrafas de rum e um sem-número de artigos de colunistas denunciando o suposto autoritarismo de Lula.
 
Lula e Dilma fugiram à armadilha, recorrendo ao que chamei, na época, de republicanismo ingênuo, às vezes até com um cuidado excessivo. 
Não tomaram nenhuma atitude contra a mídia; não pressionaram o STF; têm sido cautelosos de maneira até exagerada; não permitiram que o PT saísse às ruas em protesto contra os abusos da AP 470.
Apesar de entender esse caminho, Jango não conseguiu segurar os seus. Houve radicalização intensa, conduzida por Leonel Brizola e Darcy Ribeiro, pelo PCB de Luiz Carlos Prestes e por lideranças sindicais, que acabaram proporcionando o álibi de que os golpistas precisavam. 
Hoje em dia não há mais a guerra fria, não há uma republiqueta encravada em um continente golpista, não há o descuido com a economia. 
No entanto, há um ponto em comum nos dois períodos: o ódio que a campanha midiática provocou em diversos setores de classe média crescerá em razão inversamente proporcional ao crescimento eleitoral da oposição. E o mote central será essa a Copa do Mundo e o mote de que o governo gastou em estádios o dinheiro da saúde.
 
Há uma guerra de comunicação central.

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O verdadeiro golpe

É MEU DEVER DIZER AOS JOVENS O QUE É UM GOLPE DE ESTADO
Publicado em 20/02/2014
**Há cheiro de 1964 no ar. Não apenas no Brasil, mas também nas vizinhanças. Acho então que é chegada a hora de dar o meu depoimento.
Dizer a vocês, jovens de 20, 30, 40 anos de meu Brasil, o que é de fato uma ditadura.
Se a Ditadura Militar tivesse sido contada na escola, como são a Inconfidência Mineira e outros episódios pontuais de usurpação da liberdade em nosso país, eu não estaria me vendo hoje obrigada a passar sal em minhas tão raladas feridas, que jamais pararam de sangrar.
Fazer as feridas sangrarem é obrigação de cada um dos que sofreram naquele período e ainda têm voz para falar.
Alguns já se calaram para sempre. Outros, agora se calam por vontade própria. Terceiros, por cansaço. Muitos, por desânimo. O coração tem razões…
Eu falo e eu choro e eu me sinto um bagaço. Talvez porque a minha consciência do sofrimento tenha pegado meio no tranco, como se eu vivesse durante um certo tempo assim catatônica, sem prestar atenção, caminhando como cabra cega num cenário de terror e desolação, apalpando o ar, me guiando pela brisa. E quando, finalmente, caiu-me a venda, só vi o vazio de minha própria cegueira.
Meu irmão, meu irmão, onde estás? Sequer o corpo jamais tivemos.
Outro dia, jantei com um casal de leais companheiros dele. Bronzeados, risonhos, felizes. Quando falei do sofrimento que passávamos em casa, na expectativa de saber se Tuti estaria morto ou vivo, se havia corpo ou não, ouvi: “Ah, mas se soubessem como éramos felizes… Dormíamos de mãos dadas e com o revólver ao lado, e éramos completamente felizes”. E se olharam, um ao outro, completamente felizes.
Ah, meu deus, e como nós, as famílias dos que morreram, éramos e somos completamente infelizes!
A ditadura militar aboletou-se no Brasil, assentada sobre um colchão de mentiras ardilosamente costuradas para iludir a boa fé de uma classe média desinformada, aterrorizada por perversa lavagem cerebral da mídia, que antevia uma “invasão vermelha”, quando o que, de fato, hoje se sabe, navegava célere em nossa direção, era uma frota americana.
Deu-se o golpe! Os jovens universitários liberais e de esquerda não precisavam de motivação mais convincente para reagir. Como armas, tinham sua ideologia, os argumentos, os livros. Foram afugentados do mundo acadêmico, proibidos de estudar, de frequentar as escolas, o saber entrou para o índex nacional engendrado pela prepotência.
As pessoas tinham as casas invadidas, gavetas reviradas, papéis e livros confiscados. Pessoas eram levadas na calada da noite ou sob o sol brilhante, aos olhos da vizinhança, sem explicações nem motivo, bastava uma denúncia, sabe-se lá por que razão ou partindo de quem, muitas para nunca mais serem vistas ou sabidas. Ou mesmo eram mortas à luz do dia. Ra-ta-ta-ta-tá e pronto.
E todos se calavam. A grande escuridão do Brasil. Assim são as ditaduras. Hoje ouvimos falar dos horrores praticados na Coreia do Norte. Aqui não foi muito diferente. O medo era igual. O obscurantismo igual. As torturas iguais. A hipocrisia idêntica. A aceitação da sobrevivência. Ame-me ou deixe-me. O dedurismo. Tudo igual. Em número menor de indivíduos massacrados, mas a mesma consistência de terror, a mesma impotência.
Falam na corrupção dos dias de hoje. Esquecem-se de falar nas de ontem. Quando cochichavam sobre “as malas do Golbery” ou “as comissões das turbinas”, “as compras de armamento”. Falavam, falavam, mas nada se apurava, nada se publicava, nada se confirmava, pois não havia CPI, não havia um Congresso de verdade, uma imprensa de verdade, uma Justiça de verdade, um país de verdade.
E qualquer empresa, grande, média ou mínima, para conseguir se manter, precisava obrigatoriamente ter na diretoria um militar. De qualquer patente. Para impor respeito, abrir portas, estar imune a perseguições. Se isso não é um tipo de aparelhamento, o que é, então? Um Brasil de mentirinha, ao som da trilha sonora ufanista de Miguel Gustavo.
Minha família se dilacerou. Meu irmão torturado, morto, corpo não sabido. Minha mãe assassinada, numa pantomima de acidente, só desmascarada 22 anos depois, pelo empenho do ministro José Gregory, com a instalação da Comissão dos Mortos e Desaparecidos Políticos no governo Fernando Henrique Cardoso.
Meu pai, quatro infartos e a decepção de saber que ele, estrangeiro, que dedicou vida, esforço e economias a manter um orfanato em Minas, criando 50 meninos brasileiros e lhes dando ofício, via o Brasil roubar-lhe o primogênito, Stuart Edgar, somando no nome homenagens aos seus pai e irmão, ambos pastores protestantes americanos – o irmão, assassinado por membro louco da Ku Klux Klan. Tragédia que se repetia.
Minha irmã, enviada repentinamente para estudar nos Estados Unidos, quando minha mãe teve a informação de que sua sala de aula, no curso de Ciências Sociais, na PUC, seria invadida pelos militares, e foi, e os alunos seriam presos, e foram. Até hoje, ela vive no exterior.
Barata tonta, fiquei por aí, vagando feito mariposa, em volta da fosforescência da luz magnífica de minha profissão de colunista social, que só me somou aplausos e muitos queridos amigos, mas também uma insolente incompreensão de quem se arbitrou o insano direito de me julgar por ter sobrevivido.
Outra morte dolorida foi a da atriz, minha verdadeira e apaixonada vocação, que, logo após o assassinato de minha mãe, precisei abdicar de ser, apesar de me ter preparado desde a infância para tal e já ter então alcançado o espaço próprio. Intuitivamente, sabia que prosseguir significaria uma contagem regressiva para meu próprio fim.
Hoje, vivo catando os retalhos daquele passado, como acumuladora, sem espaço para tantos papéis, vestidos, rabiscos, memórias, tentando me entender, encontrar, reencontrar e viver apesar de tudo, e promover nessa plantação tosca de sofrimentos uma bela colheita: lembrar os meus mártires e tudo de bom e de belo que fizeram pelo meu país, quer na moda, na arte, na política, nos exemplos deixados, na História, através do maior número de ações produtivas, efetivas e criativas que eu consiga multiplicar.
E ainda há quem me pergunte em quê a Ditadura Militar modificou minha vida!
Hildegard Angel
**O primeiro parágrafo original deste texto, que fazia referência à possível iminente tomada do poder de um governo eleito democraticamente, na Venezuela, foi trocado pela frase sucinta aqui vista agora, às 15h06m deste dia 24/02/2014, porque o foco principal do assunto (a ditadura brasileira) foi desviado nos comentários. Meus ombros já são pequenos para arcarem com a nossa tragédia. Que dirá com a da Venezuela!
*** Pelo mesmo motivo acima exposto, os comentários que se referiam à questão na Venezuela referida no antigo primeiro parágrafo foram retirados pois perderam o sentido no contexto.Pedindo desculpa aos autores dos textos, muitos deles objeto de reflexão honesta e profunda, e merecedores de serem conhecidos, mas não há motivação para mantê-los aqui no ar. O nível de truculência a que levou a discussão não me permite estimulá-la.